quarta-feira, 7 de julho de 2010

CRÔNICA POR OCASIÃO DO FALECIMENTO DE CAZUZA - em 7.7.1990 - IMAGEM DA INTERNET


A VIDA E A ARTE DE CAZUZA

IALMAR PIO SCHNEIDER

Finalmente, depois que baixou um pouco a poeira, fui assistir ao filme Cazuza – O tempo não para - de Sandra Werneck e Walter Carvalho, no Cine Santander Cultural, conforme a programação Encontro do Público com o Cinema Brasileiro – Ano 2. Digo isto por se tratar de uma película que despertou polêmica junto ao público, e até recebi algumas críticas acerbas de internautas, sendo que uma assim escrevendo, enviou-me uma mensagem de um relato de um pai preocupado: “oi... pessoal, me perdoe quem gosta de Cazuza, mas eu concordo com esse e-mail... estou repassando... leia até o fim... eu acho um absurdo exaltar um cara que levou uma vida leviana e desregrada, com uma mãe submissa às loucuras do filho... e tantas foram essas loucuras que ele hoje está como???????... vivo que não é, e chama isso de exemplo, mostrar pros nossos jovens como levar uma vida idiota e encontrar de prêmio a morte?..... o Brasil tem que parar de criar esses falsos ídolos... exemplo de pessoa pra mim, é o cara que trabalha o mês inteiro pra ganhar um salário de fome e manter uma família... honestamente, claro.... Lírios... Não deixe de ler...”
E aí vem o relato do pai anônimo, extenso por sinal, que se diz preocupado com o que poderá dizer à sua filha adolescente, a fim de convencê-la de que não deve seguir esse exemplo de final tão trágico. De fato, suas alegações são contundentes, externando sua inconformidade com nosso cinema nacional, que em vez de divulgar as realizações de “pessoas realmente importantes que tenham algo de bom para essa juventude já tão transviada”. Também alude à falta de autoridade, e condescendência dos pais em não coibirem tanta libertinagem a que se entregou o jovem artista.
Quanto ao filme não vou defendê-lo, nem condená-lo, pois me parece, s.m.j., que a sua história nos mostra uma faca de dois gumes. Se por um lado é um mau exemplo, o que não deixa de ser, também indica um caminho a não seguir, pois, fatalmente, levará ao infortúnio e à morte. Assistindo ao programa do Amaury Jr., na Rede TV, ao entrevistar a cantora Bebel Gilberto, filha de João Gilberto e Miucha – esta irmã de Chico Buarque – ele perguntou-lhe se havia assistido ao filme sobre o Cazuza, ao que ela respondeu que apesar de ter sido contemporânea de Cazuza, a admirar suas letras e músicas, não gostava de ver filmes sobre a vida de artistas. Talvez despistando, pois o assunto foi encerrado sem mais delongas e passou-se para outras coisas de sua carreira.
Tempos atrás, lendo o livro Vinícius de Moraes – o Poeta da Paixão – uma biografia, escrito por José Castello, às pgs. 228 e 229, deparei-me com esta passagem que ainda não esqueci, apesar de me aventurar por outras inúmeras páginas: ...(...) “Numa dessas noites, relata a visita que recebera, naquela manhã, de dois meninos pequenos, alunos do Colégio Santo Inácio, que foram “entrevistá-lo” para um trabalho de escola. Vinícius não é muito paciente com crianças, mas eram filhos de amigos. Aceita a visita. Os dois meninos se chamam Agenor De Miranda Araujo Neto – que viria a ser, muito mais tarde, o roqueiro Cazuza – e Pedro Bial – futuro repórter de prestígio na TV Globo. Tratam-no com solenidade e com candura. O poeta se encanta com o que costuma evitar. Passa a repensar, a partir dali, seus preconceitos contra as crianças – que, de resto, jamais conseguirá superar. João Araújo, o pai de Cazuza, virá a ser produtor do músico Vinícius de Moraes e se sentirá, até o fim, impressionado com sua generosidade, que tem uma contracapa perversa: a incapacidade de dizer “não”.”
Pelo exposto, pode-se constatar que os dois colegas meninos seguiram caminhos diversos, apesar de estarem juntos na entrevista de alunos ao poeta-compositor. Mais uma vez a vida nos demonstra que tudo será diferente quando tem de ser o destino de cada um. Permito-me citar o título do texto do pai anônimo preocupado que aludi acima: “Cada um tem o seu conceito do que é certo ou errado e que tipo de educação quer dar a seus filhos!”. Portanto, de quem é a culpa ?!

Poeta e cronista – E-mail:
menestrel@brturbo.com

http://ial123.blog.terra.com.br/

EM 24.11.2007


Nenhum comentário:

Postar um comentário