domingo, 11 de julho de 2010

CRÔNICA LITERÁRIA - POR OCASIÃO DA DATA DE NASCIMENTO DE LUIS DE GÓNGORA

Luis de Góngora retratado por Diego Velázquez.



O GONGORISMO E EU

IALMAR PIO SCHNEIDER

Qualquer assunto dá uma crônica. Mas é necessário desenvolver o tema com certo desembaraço. Tenho lido alguns textos em diversos periódicos cuja compreensão dos mesmos se me torna difícil, quase impossível, tão cifrados se apresentam. São verdadeiros desabafos subjetivos. Nem vou dizer que eu também não o faça. Procuro, todavia, ser o mais direto e objetivo que possa. Pode-se dizer que se trata de uma escrita gongórica, ou seja, rebuscada, afetada. Vem do “Gongorismo” que foi uma Escola Literária do século XVII, fundada pelo poeta espanhol Luiz de Gôngora, caracterizada pelo estilo enredado, pelo abuso da metáfora, da antítese e do trocadilho”, conforme página 390 do Dicionário da Língua Portuguesa, organizado e revisado pelos professores Francisco Fernandes, Celso Pedro Luft, F. Marques Guimarães – 30ª ed. – São Paulo – Globo, 1993.
Certa noite, lá pelos idos de 1982, - lembro com alguma nostalgia – compus um soneto a que chamei “Consolação – Os meus versos não servem mais pra nada;/ quero jogá-los fora, pobres versos,/ foram meus companheiros de jornada/ nos momentos felizes ou adversos !// Muitos escritos pela madrugada,/ tristes soluços na paixão imersos/ parecem uma história inacabada/ com fragmentos avulsos e dispersos...// Entretanto, por que jogá-los fora? / se nasceram do fundo de minh’alma/ e já não servem pra mais nada agora?!// São versos pobres, versos, enfim, tristes,/ mas fazem que eu mantenha a minha calma/ e me dizem que tu neles existes...”
Esta poesia consta do meu livro Poesias Esparsas Reunidas e a considero como sendo bem compreensível. Já neste outro poema: “Modelo – Não rompo o verbo/ para não ferir a palavra/ Quem simplifica reparte/ Se fujo do contratempo/ me deparo com o muro de pedras/ Sigo um caminho de curvas/ sem retorno/ Altos e baixos encontro e transponho/ Não adjetivo para não colorir o verso/ Procuro poetar sem subterfúgios/ assim me concretizo.” – quis expressar-me de maneira mais figurativa. Penso que todas as formas são válidas, basta que o leitor se identifique, como já escreveu nosso escritor, um dos maiores romancistas, Dyonelio Machado: “Os poetas são os intérpretes das emoções humanas, - suas e alheias...”
Às vezes me acontece de estar lendo um texto cujo assunto não me leva a lugar nenhum, mas sempre o subconsciente retém alguns resquícios de idéias que poderão aflorar mais adiante. Dir-se-ia que ficam armazenados.
Recordo-me de um acontecimento bizarro que houve por ocasião de uma exposição de pinturas em Paris. Entre os quadros havia uma tela esquisita, apresentando uns riscos em círculo. Os críticos procuravam analisar a obra inusitada e um dizia que parecia ser um ciclone, outro uma chuva fina e até alguém que pensou em ser uma paisagem lunar. Assim todos foram dando suas opiniões mas ninguém atinava ao certo o que representava aquilo. Mais tarde ficou-se sabendo que se tratava do seguinte: o artista pintor havia mergulhado a rabo de um cavalo na tinta e incitado o animal que espalhou-a sobre a tela. Eis um momento da arte moderna.
Também na poesia quantas vezes me deparo com temas que comportam diversas interpretações, como diria o Conselheiro Acácio, personagem de Eça de Queiroz. Por fim, espero que o leitor me compreenda, apesar de tudo... Até a próxima crônica...
E-mail: menestrel.lobo@terra.com.br

Poeta e cronista
Publicado no Diário de Canoas.

http://ial123.blog.terra.com.br/
em 17.06.2010

Nenhum comentário:

Postar um comentário