quinta-feira, 1 de julho de 2010

CRÔNICA LITERÁRIA de IALMAR PIO - FOTO DO AUTOR

O autor autografando na Feira do Livro de Porto Alegre - RS


REINÍCIO

Ialmar Pio Schneider

De quando em vez se punha a pensar nas grandes obras que os mestres da Literatura Universal haviam criado e sentia-se, por assim dizer, diminuído, perante aqueles monumentos excelsos do pensamento, inteligência, arte e engenho humanos; isto porque sabia que jamais atingiria os píncaros daquela glória inaudita. De fato, ao se dar conta, os anos tinham passado e Otávio não havia produzido quase nada, apesar de que, outrora, quisera ser um notável escritor. Entretanto, desde cedo tivera que enfrentar o mercado de trabalho para viver, e ao conseguir certa posição na sociedade, quase que esquecera seu propósito, mas agora uma semente surgia no fundo do seu cérebro e ele, aposentado, procurava fazê-la germinar sem maiores pretensões, a não ser a de cumprir, enfim, o seu destino. Estava ciente de que possuía o livre-arbítrio, não obstante soubesse de suas limitações. Todavia, não iria seguir aquele caminho de Marcel Proust em “À Procura do Tempo Perdido”, mesmo porque já o havia ultrapassado em idade, e não demonstrava toda aquela excentricidade. Considerava-se um homem comum.
Apesar de não haver seguido a carreira literária, sempre obtivera boas notas e elogios dos professores, em suas redações, quando cursara o ginásio e o científico dos Irmãos Maristas. Lembra-se de que certa vez, ao escrever uma dissertação, empregou a palavra “majestosa” com “g”, e ao receber a nota de 9,5, foi alertado com a seguinte expressão: “Cuidado ! Erro que parece fio de cabelo em sopa gostosa”.
Hoje, ao lembrar essa advertência, Otávio procura reiniciar sua jornada rumo à prosa de ficção, sentindo como que um impulso alentador a fim de enfrentar esta tarefa para o resto de seus dias. Sabe, entretanto, que o caminho é árduo e inúmeras dificuldades se apresentarão à sua frente, considerando que a vida são degraus a galgar em etapas. O ofício a que se propõe requer a paciência de um Jó e a pertinácia de um Moisés, resguardadas as proporções. Ainda ontem ouviu um velho poeta dizer: “Escrever difícil é fácil, mas escrever simples é difícil.”
Talvez, quem sabe, amanhã possa acrescentar algo ao acervo cultural e repetir com Thomas Carlyle: “Nenhum grande Homem vive em vão. A história da Humanidade não é mais do que a biografia dos grandes Homens.”
Assim pensa Otávio em seu recanto, reorganizando suas memórias, reunindo seus antigos rascunhos e recolhendo o que sobrou da voracidade do tempo.
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Poeta e contista

Publicado em 17 de julho de 1998 - no Diário de Canoas.

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