domingo, 29 de março de 2015




O OUTONO E O DIA MUNDIAL DO LIVRO

IALMAR PIO SCHNEIDER

     Enquanto transcorre o outono e sofremos esta estiagem prolongada que tanto tem prejudicado aos agricultores, quanto ameaça o abastecimento de água potável nas cidades, em nossa região sul,  vemos chuvaradas e enxurradas alagarem as ruas e casas da grande metrópole de São Paulo. Basta ligarmos as estações de TV à tarde e já vemos helicópteros percorrendo o céus e mostrando, quase que diariamente, o fenômeno acima. Esperemos que a chuva nos visite benéfica e assiduamente nos próximos dias.
      Sempre me atraiu esta estação do ano em que as folhas caem e os poetas cantam e até compus-lhe um poemeto: NO OUTONO - Noites semi-frias/ e virá o inverno depois/ e as noites ficarão mais frias/ e o vento entoará canções...// Estamos no Outono.// No silêncio das madrugadas/ alguém escreve poesias,/ mas as outras madrugadas,/ as que hão de vir, sejam,/ talvez/ mais vazias. (Canoas, 21-5-82). Mas lendo uma antologia Presença da Literatura Brasileira - Modernismo, de Antonio Candido e José Adroaldo Castello, 9ª edição - DIFEL, encontrei à pg. 59, um poema de um dos príncipes de nossos poetas, que muito me agradou e não resisti à tentação de transcrevê-lo abaixo: “Outono - Guilherme de Almeida - O ar é ágil e passa com uma elegância fina/ entre as folhas das laranjeiras./ Além para o pomar cheiroso a tua cortina:/ vê como a luz que vem das trepadeiras/ é verde e leve e as folhas como estão firmes nos galhos !// E no entanto é Outono./ Estende os teus lábios para este ar puro:/ hás de sentir na tua boca um beijo doce/ como se o ar fosse uma abelha e os teus lábios fossem/ dois gomos de um fruto maduro.”  É preciso explicar ? tão linda metáfora ? !
     Outrossim, no dia 23 p.p., foi comemorado o Dia Mundial do Livro, reverenciando a data de nascimento e morte do insuperável poeta e dramaturgo inglês William Shakespeare (*1564-+1616) e o falecimento do não menos importante escritor espanhol Miguel Cervantes Saavedra, (*1547-+1616), os quais nos deixaram obras-primas universais: HAMLET - “Ser ou não ser, essa é que é a questão:/ Será mais nobre suportar na mente/ As flechadas da trágica fortuna/ Ou tomar armas contra um mar de escolhos/ E, enfrentando-os, vencer? Morrer - dormir:/ Nada mais; e dizer que pelo sono/ Findam as dores, como os mil abalos/Inerentes à carne - é a conclusão/ Que devemos buscar. Morrer - dormir./ Dormir ! Talvez sonhar - eis o problema,/ Pois os sonhos que vierem nesse sono/ De morte, uma vez livres deste invólucro/ Mortal, fazem cismar. Esse é o motivo que prolonga a desdita desta vida.(...) (trad. de Ana Amélia Carneiro de Mendonça); ou DOM QUIXOTE, de que um poeta amigo, o saudoso Clóvis Soares Siedler, de São Leopoldo, escreveu o seguinte soneto, com o qual quero aqui lembrar-lhe a memória: “CENA FINAL - Regressa Dom Quixote ao quarto do solar,/ exausto dos afãs de cavaleiro andante./ Escuta-se, lá fora, o velho Rocinante/ - narinas a fremir - sorvendo ansiado o ar.// Na febre que acomete o triste viandante/ - no leito de doença - um raio de luar/ parece convidá-lo a um novo pelejar/ por sua Dulcinéia - a dama fascinante.// Em vão, doido, o luar provoca Dom Quixote./ A pátina apagou já do broquel o mote./ A lança enferrujou. Não há mais ideal.// Há paz, apenas paz, na fronte encanecida/ do ancião, e - em seu olhar - a imagem refletida/ do lábaro do sonho hasteado em funeral.” Do livro: Caminhos do Tempo - pg. 122. Também neste dia 23 p.p., comemora-se o dia de São Jorge, protetor dos cavaleiros, bem como dos cavalos e do gado.
     Daqui onde estou, vejo a paineira cujas flores caíram há poucos dias, mas as folhas verde-escuras ainda persistem. É o eterno ciclo da natureza que transcorre. Aguardemos a chuva !
________________________________________________
   Poeta e cronista - E-mail: menestrel@brturbo.com

   Publicado no Diário de Canoas – em 28 de abril de 2004-04-29


quinta-feira, 26 de março de 2015




CRÔNICA PARA PORTO ALEGRE NO DIA DO SEU ANIVERSÁRIO - 243 ANOS 

IALMAR PIO SCHNEIDER

     Pelo transcurso dos 243 anos do aniversário da Capital Gaúcha, ocorre-me escrever algo sobre o evento de 26 de março de 1772. Mas por não me aprofundar no assunto, inicialmente, quero dizer que Porto Alegre não se descreve, se vive. Foram tantos os historiadores, poetas, literatos, enfim, que perscrutaram sobre sua história, que desnecessário se faz repetir aqui. Todavia, como disse o poeta, Casimiro de Abreu, em seus inspirados versos de Minha Terra: “Todos cantam sua terra,/ Também vou cantar a minha,/ Nas débeis cordas da lira/ Hei de fazê-la rainha;/ - Hei de dar-lhe a realeza/ Nesse trono de beleza/ Em que a mão da natureza/ Esmerou-se em quanto tinha.”.(...) 
     Diga-se, de passagem, que a cidade fundada às margens do lago ou rio Guaíba (ainda está em discussão a correta denominação), sobressai como uma das mais lindas do Universo, e o seu pôr-do-sol, dizem é o mais fantástico do Mundo. Assim também senti quando compus-lhe o seguinte soneto: Ao pôr-do-sol... Pedes-me que eu defina brevemente/ o que seja emoção e fantasia,/ quando nos encontramos de repente/ num happy hour ao final do dia.// Mas eu que vivo longe, indiferente,/ trazendo no meu peito a rebeldia/ de alguém que acreditava, hoje descrente,/ não consigo dizer-te o que seria...// Apenas fico cada vez mais triste/ e já me vês então transfigurado/ olhando o sol que afunda no Guaíba.// Poesia enfim é tudo quanto existe/ nessas horas em que sonho acordado/ e sinto que a saudade me derriba...
     Com estes versos quero prestar uma modesta homenagem à cidade aniversariante que acolhe a todos os que aqui aportam, tanto rio-grandenses, quanto de outros Estados, como é o caso  de um dos grandes escritores, como o foi, o ínclito literato Guilhermino Cesar, que era mineiro e de tantos outros com que poderia preencher páginas e páginas. Isto é a prova provada de que é uma metrópole cosmopolita sem preconceitos.
     Contudo, o ponto máximo de amor à cidade de Porto Alegre, está no poema de nosso poeta maior, a meu ver, Príncipe dos poetas, Mário Quintana, cuja obra celebrou-a como ninguém: “O mapa – Olho o mapa da cidade/ Como quem examinasse/ A anatomia de um corpo...// (É nem que fosse o meu corpo !)// Sinto uma dor infinita/ Das ruas de Porto Alegre/ Onde jamais passarei...// Há tanta esquina esquisita,/ Tanta nuança nas paredes,/ Há tanta moça bonita/ Nas ruas que não andei/ (E há uma rua encantada/ Que nem em sonhos sonhei...)// Quando eu for, um dia desses,/ Poeira ou folha levada/ No vento da madrugada,/ Serei um pouco do nada/ Invisível, delicioso// Que faz com que o teu ar/ Pareça mais um olhar,/ Suave mistério amoroso,/ Cidade de meu andar/ (Deste já tão longo andar !)/ E talvez do meu repouso...”
     Nem é preciso dizer que vindo do Alegrete, o poeta aqui se integrou e viveu ao longo de sua existência, sempre escrevendo poemas sobre esta cidade acolhedora que ele adotou de coração. Seus maravilhosos sonetos falam da Rua dos cata-ventos, hoje uma travessa na Casa de Cultura que leva seu nome e que é um centro turístico de nossa capital.
     Escusa-me não haver citado tantos outros autores: poetas, cronistas, romancistas, ensaístas, filósofos, e principalmente, o amigo Nelson Fachinelli, poeta de sua bem-amada cidade, pois aqui nasceu e viveu, bem como o insuperável poeta-músico, Lupicínio Rodrigues, cujas composições conquistaram a todos que as ouvem até hoje. Faltou muita gente, mas paciência, pois serão sempre lembrados por mim. Até mais.

    Poeta e cronista – E-mail: menestrel.lobo@terra.com.br



terça-feira, 24 de março de 2015


Selfie 


E ENTÃO SERIAS DEUSA-------Eu fora tão feliz se te pudera/ fazer ainda muito mais feliz./ Oferecer-te uma flor da primavera/ que fosse alegre assim como sorris.// Era de ver... E mais eu te quisera/ se te pudesse curar a cicatriz/ daquele teu amor que foi quimera/ - palavra que se quer e não se diz.// Ambos unidos num suspiro ardente/ de volúpia, de sensação surpresa/ que fizesse tremer profundamente/ as nossas emoções enamoradas/ e nestas horas tu serias a Deusa/ dos meus sonhos em altas madrugadas.--------IALMAR PIO SCHNEIDER