O OUTONO E O DIA MUNDIAL DO LIVRO
IALMAR PIO SCHNEIDER
Enquanto transcorre o outono e sofremos
esta estiagem prolongada que tanto tem prejudicado aos agricultores, quanto
ameaça o abastecimento de água potável nas cidades, em nossa região sul, vemos chuvaradas e enxurradas alagarem as
ruas e casas da grande metrópole de São Paulo. Basta ligarmos as estações de TV
à tarde e já vemos helicópteros percorrendo o céus e mostrando, quase que
diariamente, o fenômeno acima. Esperemos que a chuva nos visite benéfica e
assiduamente nos próximos dias.
Sempre me atraiu esta estação do ano em
que as folhas caem e os poetas cantam e até compus-lhe um poemeto: NO OUTONO - Noites semi-frias/ e virá o inverno depois/
e as noites ficarão mais frias/ e o vento entoará canções...// Estamos no
Outono.// No silêncio das madrugadas/ alguém escreve poesias,/ mas as outras
madrugadas,/ as que hão de vir, sejam,/ talvez/ mais vazias. (Canoas,
21-5-82). Mas lendo uma antologia Presença
da Literatura Brasileira - Modernismo, de Antonio Candido e José Adroaldo
Castello, 9ª edição - DIFEL, encontrei à pg. 59, um poema de um dos príncipes
de nossos poetas, que muito me agradou e não resisti à tentação de
transcrevê-lo abaixo: “Outono - Guilherme de Almeida - O ar é ágil e passa com uma elegância fina/ entre as folhas das
laranjeiras./ Além para o pomar cheiroso a tua cortina:/ vê como a luz que vem
das trepadeiras/ é verde e leve e as folhas como estão firmes nos galhos !// E
no entanto é Outono./ Estende os teus lábios para este ar puro:/ hás de sentir
na tua boca um beijo doce/ como se o ar fosse uma abelha e os teus lábios
fossem/ dois gomos de um fruto maduro.”
É preciso explicar ? tão linda metáfora ? !
Outrossim, no dia 23 p.p., foi comemorado
o Dia Mundial do Livro, reverenciando a data de nascimento e morte do
insuperável poeta e dramaturgo inglês William Shakespeare (*1564-+1616) e o
falecimento do não menos importante escritor espanhol Miguel Cervantes
Saavedra, (*1547-+1616), os quais nos deixaram obras-primas universais: HAMLET
- “Ser ou não ser, essa é que é a
questão:/ Será mais nobre suportar na mente/ As flechadas da trágica fortuna/
Ou tomar armas contra um mar de escolhos/ E, enfrentando-os, vencer? Morrer -
dormir:/ Nada mais; e dizer que pelo sono/ Findam as dores, como os mil
abalos/Inerentes à carne - é a conclusão/ Que devemos buscar. Morrer - dormir./
Dormir ! Talvez sonhar - eis o problema,/ Pois os sonhos que vierem nesse sono/
De morte, uma vez livres deste invólucro/ Mortal, fazem cismar. Esse é o motivo
que prolonga a desdita desta vida.(...) (trad. de Ana Amélia Carneiro de
Mendonça); ou DOM QUIXOTE, de que um poeta amigo, o saudoso Clóvis Soares
Siedler, de São Leopoldo, escreveu o seguinte soneto, com o qual quero aqui
lembrar-lhe a memória: “CENA FINAL - Regressa
Dom Quixote ao quarto do solar,/ exausto dos afãs de cavaleiro andante./
Escuta-se, lá fora, o velho Rocinante/ - narinas a fremir - sorvendo ansiado o
ar.// Na febre que acomete o triste viandante/ - no leito de doença - um raio
de luar/ parece convidá-lo a um novo pelejar/ por sua Dulcinéia - a dama
fascinante.// Em vão, doido, o luar provoca Dom Quixote./ A pátina apagou já do
broquel o mote./ A lança enferrujou. Não há mais ideal.// Há paz, apenas paz,
na fronte encanecida/ do ancião, e - em seu olhar - a imagem refletida/ do
lábaro do sonho hasteado em
funeral.” Do livro: Caminhos do Tempo - pg. 122. Também neste dia
23 p.p., comemora-se o dia de São Jorge, protetor dos cavaleiros, bem como dos
cavalos e do gado.
Daqui onde estou, vejo a paineira cujas
flores caíram há poucos dias, mas as folhas verde-escuras ainda persistem. É o
eterno ciclo da natureza que transcorre. Aguardemos a chuva !
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Poeta e
cronista - E-mail: menestrel@brturbo.com
Publicado no Diário de Canoas – em 28 de
abril de 2004-04-29