terça-feira, 12 de janeiro de 2010

S O N E T O de IALMAR PIO - AQUARELA de ÂNGELA PON

Aquarela de Ângela Ponsi

S A U D O S I S T A

Ialmar Pio Schneider
____________________

Tu me acusas de eu ser um saudosista
a viver relembrando amores idos...
como queres que assim deles desista
se foram, afinal, apetecidos ?


E viverão comigo enquanto exista
saudade dos momentos bem vividos,
representando sonhos de conquista
oh! como poderão ser esquecidos ?!


É meu dever querer-te sempre mais,
mas os direitos devem ser iguais
para que nunca Amor haja conflito.


A acusação que sai da tua boca
só te transtorna, tu pareces louca !
Aquilo que houve outrora está prescrito...

Canoas, 20.11.82
Pág. l2 - O TIMONEIRO - CANOAS (RS)-7-1-83

************************************************
Olá ! Estarei ausente até início de abril e sem computador
Na Praia. Até a Volta e muitas felicidades pra VC. E aos
Que lhe são caros.

Abraços,

Ialmar Pio

domingo, 10 de janeiro de 2010

POEMA de IALMAR PIO - AQUARELA de ÂNGELA PONSI

Aquarela de Ângela Ponsi

SOLIDÃO A DOIS

Ialmar Pio Schneider
_______________________

Mergulhar no esquecimento
quando a noite ainda tarda,
afastado do tormento
e a viver numa mansarda...

E longe do burburinho
da turbamulta exaltada,
não pra se ficar sozinho
mas junto com a bem amada.

Oh! Solidão concebida
és meu desejo ideal,
pois confortando-me a vida
talvez curasses meu mal.

Publicado em O TIMONEIRO - Pág. 11 em 10.12.82 - CANOAS(RS)

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

S O N E T O de IALMAR PIO - AQUARELA de ÂNGELA PON

Aquarela de Ângela Ponsi


AMOR ANTIGO

Ialmar Pio Schneider

Eu quis fazer um verso de saudade
que me trouxesse os dias já vividos;
e pensei nos caminhos percorridos
quando te amei demais, na mocidade.

Mas, hoje mergulhado na ansiedade,
só me atormentam sonhos reprimidos,
como se fossem cânticos perdidos
que me negaram a felicidade.

Aquela que cruzou o meu destino
e só me fez cantar inutilmente
os seus dotes de rara exuberância,

matou pra sempre os sonhos de menino
que povoavam então a minha mente
de todos os amores sem constância...

Porto Alegre - RS, 26 de maio de 2002

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

POEMA de IALMAR PIO - AQUARELA de ÂNGELA PONSI

Aquarela de Ângela Ponsi

NOTURNO

Ialmar Pio Schneider


A noite é longa e muito mais se estenderá...


Tem paciência,

Diz-me a consciência.

Mas um soluço me corta o fôlego.


Espero o sol como a criança

Fica na esperança

De receber um presente

Do Papai-Noel.


Oh! Como vai distante

O sonho não realizado,

A incerteza do amanhã.


A noite é longa e muito mais se estenderá...


Sinto a solidão,

Não há perdão.

Oh! Poema caótico,

Confuso poema,

Vive o momento de ansiedade sem alivio,

É teu destino turvo continuar.


A noite é longa e muito mais se estenderá...


Obstinadamente recebo emanações de luz

Na escuridão.

Quero ser alguém liberto das catástrofes,

Vencer o “Medo à Liberdade”.

Enfrentar meu castigo,

Fugir do perigo.


A noite é longa e muito mais se estenderá...


Lamentar o que?

Eu preciso de você

Nestas horas incoerentes

Que se arrastam devagar.

Aqui junto de mim,

Aguardando amanhecer o dia,

Cheio de alegria

Para uma vida nova;

Enfim, rejuvenescer

E ser capaz de ser audaz, e ser jovial.


A noite é longa e muito mais se estenderá...


segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

CONTO de IALMAR PIO - AQUARELA de ÂNGELA PONSI

Aquarela de Ângela Ponsi


O DILEMA

Ialmar Pio Schneider

Aguardava, ansiosamente, que alguma novidade pudesse acontecer. Não tinha certeza de que tudo estivesse perdido. Nesta dúvida se assentava o pensamento de Cândido, abandonado pela mulher, após doze longos anos de convivência, que lhe deixou marcas indeléveis para o resto da vida.
Contanto que houvesse progredido financeiramente, sua ingenuidade o fizera acreditar que era aceito, mas agora sentia que não tinha vencido no amor. De fato, Sayonara o traía com Ernesto, quando ele ia exercer seu cargo de guarda-livros em uma firma de beneficiamento de madeiras.
Nas longas tardes de verão, enquanto ele se esfalfava no escritório, ela se encontrava com o amante às margens do rio dos Sinos, onde outrora, quando ainda não era tão poluído, existia um local que denominavam “a prainha”. Lá permaneciam algum tempo, conversando com certo disfarce e depois saíam no carro de Ernesto rumo da casa de Marlene que alugava quartos para encontros amorosos.
Era um dos rendez-vous da cidade, tido como dos mais sigilosos, então existentes. Chegavam e pediam um quarto por duas horas, o que já era de praxe. A empregada da casa lhes entregava a chave e eles seguiam por um corredor até dar a uma porta, nos fundos, onde havia uma cama de casal, um roupeiro, uma cadeira, uma bacia para higiene pessoal e uma jarra com água. O banheiro, naquela época, ficava no corredor e era coletivo. Não existiam os modernos motéis de hoje em dia. Então, após se desnudarem, deitavam e faziam amor: ele impacientemente e ela fogosa, sem qualquer pejo, uma vez que sentia haver trocado o Cândido por Ernesto há algum tempo.
De repente, Ernesto rompe o silêncio e diz:
- Sayô, meu bem, quando poderemos estar juntos, sem nos preocupar com os outros ? Já estou ficando aborrecido de ter que estar fingindo, disfarçando nosso amor. Que me dizes ?
- Ora, Néstinho, tem paciência... Estou bolando uma maneira de deixar o Cândido, mas me falta, talvez, coragem. Sei que não vai demorar, pois não agüento mais viver assim.
Depois desse dia, Sayonara parece ter avivado em seu espírito o desejo de abandonar o marido que não a fizera feliz. Chegava em casa à tardinha e se parava diante do espelho a pensar: “Estou envelhecendo e presa a este casamento sem graça... Até quando?!” Procurava uma ocasião para dar o fora. Não achava nada fácil fazê-lo.
Entretanto, passado algum tempo apresentou-se-lhe a oportunidade. Cândido tivera que viajar a serviço da empresa para São Paulo, a fim de fazer um curso rápido de contabilidade e adquirir, ao mesmo tempo, algumas máquinas para o escritório.
Sayonara aproveitou. Encheu duas malas e uma sacola de roupas e sapatos e se dirigiu para a rodoviária em Porto Alegre onde tomou um ônibus para Pelotas. Antes disso, porém, combinou com Ernesto que a esperasse na rodoviária daquela cidade. Assim foi feito. À noitinha ela chegou lá na Princesa do Sul e se encontrou com ele que aguardava-a, impacientemente. Não sabia o que poderia acontecer, mas, enfim, estariam agora juntos. Desfrutariam a Praia do Laranjal às margens da Lagoa dos Patos, tão famosa em todo o estado do Rio Grande do Sul, quase como se fosse uma praia de mar.
Finalmente Cândido voltou, após uma semana, e chegando em casa, qual não foi a sua surpresa, quando não encontrou a mulher. Apenas sobre a cama do casal havia um bilhete que dizia o seguinte:
“Cândido, espero que compreendas minha atitude e me desculpes. De uns tempos para cá senti que o nosso casamento foi um fracasso. Não poderia mais continuar tapando o sol com a peneira, pois além de te iludir, eu me iludia a mim mesma. Amo outro e tenho certeza de que também sou amada por ele. Não queiras saber onde eu me encontro. Assim será melhor. Adeus!”
_____________________________
Poeta e contista