sexta-feira, 16 de julho de 2010

CRÔNICA de IALMAR PIO - Imagem da Internet

Serenata


O SAUDOSISTA

IALMAR PIO SCHNEIDER

Ninguém está livre de sentir saudades, principalmente quando se lembra de um passado mais ameno, e não perigoso como o presente, cheio de apreensões para não ser assaltado a qualquer hora do dia ou da noite.
Andava-se pelas ruas, às vezes até alta madrugada, apreciando a lua e as estrelas, participando de serenatas com tranqüilidade. Diversas famílias sentavam-se em frente de suas casas a fim de “aproveitar a fresca da noite”. As crianças corriam, brincando de se pegar ou de se esconder, mas isto até mais ou menos às 21 horas e então se recolhiam. Os boêmios, esses sim, saíam mais tarde e continuavam sua ronda.
Não havia naquela época, tantas grades cercando as residências, nem cachorros ferozes pelos pátios, mas apenas cães mansos que serviam de companhia. A vida era, por assim dizer, muito mais romântica e menos atribulada do que hoje em dia.
Os rios não eram ainda poluídos e tomava-se banho às suas margens, adentrando-se em suas águas até onde desse pé. Evitavam-se os lugares mais profundos, nos chamados poços traiçoeiros, mesmo sabendo-se nadar. Eram as praias de água doce de minha infância, quando também saía a pescar lambaris, mas não com alfinetes, nunca o consegui por não ter o fisgo e sim com anzoizinhos próprios que conseguia no armazém de meu pai, lá na saudosa e distante vila natal.
Não quero aqui tratar do saudosismo do poeta português Teixeira de Pascoais, “no artigo Renascença, publicado em 1912 na revista do Porto, A Águia, órgão da associação A Renascença Portuguesa. O poeta definia a saudade como a velha lembrança gerando o novo desejo, considerando tal concepção essencial para uma Renascença portuguesa que fizesse das glórias do passado o elemento vitalizante da conduta a ser seguida pelas novas gerações. Raul Proença e Antônio Sérgio, que faziam parte da Renascença Portuguesa, discordaram de que Teixeira de Pascoais apresentasse o saudosismo não como concepção individual sua, mas como doutrina, de todo o grupo, sendo, por esse motivo, considerados sócios dissidentes da agremiação” - “ENCICLOPÉDIA BRASILEIRA MÉRITO - VOLUME 18, pág. 41”, embora eu mesmo tenha composto um soneto, como segue: “SAUDOSISTA” - “Tu me acusas de eu ser um saudosista / a viver relembrando amores idos / como queres que assim deles desista / se foram, afinal, apetecidos? // E viverão comigo enquanto exista / saudade dos momentos bem vividos, / representando sonhos de conquista / oh! como poderão ser esquecidos?! // É meu dever querer-te sempre mais, / mas os direitos devem ser iguais / para que nunca Amor haja conflito. // A acusação que sai da tua boca / só te transtorna, tu pareces louca ! / Aquilo que houve outrora está prescrito...” “Canoas, 20.11.1982”, - que consta de meu livro “POESIAS ESPARSAS REUNIDAS”, a ser lançado oportuna e brevemente na banca dos autores canoenses da Fundação Cultural de Canoas, na Feira do Livro.
As minhas lembranças reportam-se a um tempo em que “a gente era feliz e não sabia”, não pretendendo formar escola, nem tampouco esgotar o assunto. Cada qual vive a sua vida e a sua época !...
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Poeta e cronista
Publicado em 24 de junho de 2000 - no Diário de Canoas.
http://ial123.blog.terra.com.br/

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