O FUNDADOR DE CASAS DO POETA*
IALMAR PIO SCHNEIDER
Foi lá pelos idos de 1982 que conheci o
poeta e literato, Nelson da Lenita Fachinelli, o vulgo “operário das letras”,
que por muitos anos preside e carrega em seus ombros o encargo de manter viva e
atuante a Casa do Poeta-Rio-Grandense, cuja fundação nos remete ao longínquo 24
de julho de 1964. Residia por aquela época, o nobre companheiro, no Bairro
Cristal, na rua Dr. Campos Velho, a “faixa preta”, ainda tão citada hoje em dia. Lembro-me que
fui de táxi e ele me disse depois que não precisava fazê-lo por este meio de
transporte, porque passavam por ali lotações e ônibus. Em todo caso não havia
me dado conta disto e agradeci-lhe a informação. Bem que eu poderia ter
economizado uns cobres.
Naquele distante ano participei pela
primeira vez de uma antologia organizada por ele, Trovadores do Rio Grande do
Sul, de que participavam também outros nove consagrados poetas e que lançamos
na Feira do Livro de Porto Alegre, em 13 de novembro de 1982. Foram dezesseis
trovas, sendo a primeira: A trova é o verso que nasce/ de um coração sonhador;/
fica estampada na face/ de quem vive um grande amor !
E a última, ou seja a décima sexta, diz: O
vento leva o meu verso,/ - afinal nada o detém -/ pelos confins do Universo/ e
pra quem me queira bem.
O que me leva a prestar esta homenagem é o
sonetista que ele também demonstrou ser, notadamente pelos dois sonetos a
seguir: “UM ROSTO DE MULHER--Nelson
Fachinelli/Hoje estive relendo comovido,/as cartas que você mandou-me
outrora/quando ainda sentia-me iludido/por quimeras que o tempo jogou fora.//É
mesmo assim a vida... o tempo ido/não há aquele ser que não o chora,/embora o
coração, nele ferido/tenha sofrido mágoas, hora a hora.//Nosso romance que
durou tão pouco,/mas quase fez de mim um triste louco/teve bem um desfecho
inacabado.//Por isso, que prossigo procurando/achar nas que, por mim, vivem
passando,/um rosto de mulher, do meu passado !”
E este outro, místico e em que lembra as
reuniões do Cafezinho Poético, no Restaurante Dona Maria, na José Montauri, de
tão saudosa memória: “QUANDO A MORTE CHEGAR...Nelson Fachinelli--/Quando a
morte chegar em meu árduo caminho,/que venha sem alarde, sorrateiramente:/de
olhos abertos vou aguardá-la, com carinho/como aquele que espera a amada,
longamente...//Quando a morte surgir... hei de ir tão sozinho/tal como vim ao
mundo - voluntariamente./Vou partir sem lamúria, bem devagarinho/como quem sabe
que vai voltar novamente...//Quando eu me for... não quero, por favor,
tristeza./Eu auguro uma longa ronda de beleza,/de quentes cafezinhos, poemas e
canções.//Aos que eu feri, perdão, rogo por meus pecados,/aos que meu mal
quiseram, estão perdoados,/pois só deve reinar Amor nos corações !”
Mas esta é uma minúscula faceta do
dinâmico poeta e trovador que tem se esmerado
na fundação de diversas Casas de Poetas no Estado, inclusive há pouco
tempo em nossa cidade de Canoas, juntamente com a presidente Maria Santos Rigo,
batalhadora incansável na divulgação da cultura. Ele mesmo assim se define: “Tu
dizes que eu sou da farra.../ puro engano, minha amiga:/ - eu canto como a
cigarra:/ trabalho como a formiga !”
Sua figura característica, percorrendo as
ruas a carregar uma pasta e uma sacola de livros e convites e avisos, lembra um
Dom Quixote enfrentando os moinhos de vento, a passear seu ideal aventureiro.
Dir-se-ia um cavaleiro andante.
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Poeta
e cronista - E-mail: menestrel@brturbo.com
Publicado no
Diário de Canoas – RS.
- Faleceu em 26 de abril de
2006
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