domingo, 4 de maio de 2014



A OBRA DE PAULO SETÚBAL

IALMAR PIO SCHNEIDER

         Escritor elegante, poeta de a Alma Cabocla (poesias), romancista histórico de O Príncipe de Nassau, e A Marquesa de Santos (considerada sua obra-prima, com tradução em vários idiomas), além de outros, num total de 13 livros, e as suas memórias de o Confiteor (sua autobiografia, que foi publicada postumamente), Paulo Setúbal, foi um autor que conheci nos idos de 1957, quando cursava o ginásio. Logo me atraíram suas poesias, de cunho ultra-romântico, em que falava de sua terra natal Tatuí, interior do Estado de São Paulo, amores diversos da juventude (moita de rosas, floco de espuma, sertanejas e poesia inédita), imprimindo a seguinte dedicatória no seu livro de versos: “A ti, minha mãe, que és a melhor das mães, estes despretensiosos versos da nossa terra e da nossa gente.”  Depois enveredou para a prosa, tendo produzido romances, contos históricos, memórias, crônicas, episódios históricos e ensaios, que o levaram à Academia Brasileira de Letras em 1934, com apenas 41 anos de idade, pois nascera em 1893. Na ocasião pronunciou sincero discurso que arrematava com as seguintes palavras de agradecimento: - “Mas deixai também, meus senhores, que nesta linda hora risonha, em que as emoções mais íntimas se atropelam dentro de mim, deixai que, mal acabe de vos agradecer, eu me ausente precipitado destas galas. Sim, deixai que o meu coração voe para longe daqui, fuja para a minha estremecida cidade de São Paulo, e lá, comovido e respeitoso, penetre por um momento, muito de manso, numa casa modesta de bairro sem luxo. Nessa casa, a estas horas, nesta mesma noite, está uma velha toda branca, oitenta anos, corcovada, com o seu rosário de contas já gastas, a rezar diante da Virgem pelo filho acadêmico. Pelo filho que ela, a viúva corajosa, ramo desajudado, mas altaneiro, de família opulenta, criou, educou, fez homem - Deus sabe com que sacrifícios e com que ingentes heroísmos obscuros !  Deixai pois, senhores acadêmicos, que o meu coração voe para a casa modesta de bairro sem luxo, entre no quarto do oratório, ajoelhe-se diante da velha branquinha, beije-lhe as mãos, e, na brilhante noite engalanada deste triunfo, diga-lhe por entre lágrimas: - Minha mãe, Deus lhe pague !” Três anos após, entretanto, faleceria, em 1937, interrompendo uma trajetória literária promissora e recebeu do P. Leonel Franca S. J., o exórdio: PAULO SETÚBAL ! “Na plenitude dos anos, o anjo da morte bateu-lhe à porta para acompanhá-lo ao descanso eterno dos justos. Os admiradores da sua obra literária lamentam, inconsoláveis, o desaparecimento prematuro do artista da palavra. No firmamento das letras foi o seu brilho fugaz como o de um meteoro. Os que, nos últimos tempos, lhe conheceram de perto as ascensões espirituais choram a perda irreparável de um apóstolo cujas irradiações benéficas poderiam amanhã estender-se em ondas de incomensurável amplitude.”
         Apesar da glória que atingiu em tão pouco tempo, para mim será sempre o poeta de versos simples quais os que se seguem: “SÓ TU - Dos lábios que me beijaram,/ Dos braços que me abraçaram,/ Já não me lembro, nem sei.../ São tantas as que me amaram !/ São tantas as que eu amei !// Mas tu - que rude contraste ! - / Tu, que jamais de beijaste,/ Tu, que jamais abracei,/ Só tu, nest’alma, ficaste,/ De todas as que eu amei...”
         E destes outros que decorei, em certo tempo de minha vida, na adolescência, e sempre me pediam que declamasse, em festinhas que freqüentava, onde correu um boato que eu havia me apaixonado por uma noiva, ou melhor, seria apaixonado por alguém que agora seria noiva. Devo dizer que não passa de lenda, embora não seja tão famoso assim. Lá vai: “SÊ FELIZ ! -  És noiva... Em breve há de raiar o dia,/ Festivo, azul, vibrante de alegria,/ Que te sorri num céu de rosicler./ Irás à igreja. E, num altar formoso,/ Branca de anseio, trêmula de gozo,/ Verás florir teu sonho de mulher !// Oh!  Nessa noite, o baile terminado,/ Ao te despires para o teu noivado,/ Sonhando os sonhos que a paixão te diz,/ Tu hás de ouvir, na alcova silenciosa,/ O tom queixoso duma voz queixosa,/ Que te dirá baixinho: Sê feliz !// E, pálida de susto, ao escutá-la,/ Hás de reconhecer a minha fala,/ Ouvindo a minha voz naquela voz !/ E hás de sentir, como jamais sentiste,/ O fel que vai naquele verso triste,/ A dor que punge aquela frase atroz...
         Só para complementar, esses dias, passei por um dos “becos dos livros”, e adquiri a obra completa de Paulo Setúbal, edição Saraiva, de 1954, em perfeito estado de conservação, para não dizer novos. Acredito que nem tenham sido abertos e folheados. São treze volumes que pretendo ler aos poucos, como quem curte uma saudade de um tempo bom de outrora. Contava com menos de dezoito invernos e talvez era feliz sem saber. A vida é assim mesmo...
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   Cronista e poeta
   Publicado em 26 de junho de 2002 - no Diário de Canoas.

EM 26.04.2010
em 4.5.2011




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