terça-feira, 2 de agosto de 2011

P R Ó L O G O



Ialmar Pio Schneider


Eis que empeço por aqui
relatar coisas do pago,
que sinceramente trago
no relicário do peito,
com muito amor e respeito

à tradição campechana,

onde esta vida haragana

leva por base o direito!



Minha escola foi o campo

e não passei além disso;

no entanto, não sou remisso,

pois um chiru descuidado

às vezes manda o recado,

com tal pressa e sem paciência,

que por qualquer coincidência

por outro já foi contado.



Minha experiência de taura

fez-me cantor sem retovo,

começando desde novo

como simples payador,

nunca levando temor

na luta do dia-a-dia

que enfrento com galhardia

num catecismo de amor.









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8 - Ialmar Pio Schneider - Versos gauchescos















Enquanto escrevo meus versos

vai esquentando a chaleira,

em toada milongueira

que me vai matando o tédio,

pois chimarrão é o remédio

que há muito tempo me cura

da solidão sem ventura

que me faz amargo assédio.



Estas rimas foram feitas

sem nenhuma pretensão,

saíram do coração

de um gaúcho que trabalha,

pois a vida é uma batalha

com percalços, com enleios,

já trago os ouvidos cheios:

quem não luta se atrapalha.



Criado nas intempéries

labutando desde piá,

nunca fui do deus-dará

nem tampouco cajetilha,

sou neto de farroupilha

que no Rio Grande de outrora

nas peleias campo afora

fez nossa raça caudilha.













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9 - Ialmar Pio Schneider - Versos gauchescos























Não me achico nem me zango

por pouca coisa ou por nada

e ao topar uma parada

vou até o fim sem receio;

não sou amigo do alheio

nem prejudico a ninguém,

vivendo assim, vivo bem

e poucas vezes peleio.



Sou índio de tiro longo

num bolicho de campanha;

faço versos, bebo canha,

nunca fui malcomportado

e embora estando magoado,

tenho comigo um sistema

que é de não criar problema:

sofro solito e calado.



Tenho meu pingo e a chinoca,

o velho rancho barreado

por mim mesmo fabricado,

onde nas noites de inverno

gozo o calor rude e terno

de um guasca fogo de chão,

quando sorvo o chimarrão

meu xucro vício paterno.











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10 - Ialmar Pio Schneider - Versos Gauchescos

































Pois desde piá saboreio

o mate amargo bendito

que é o consolo favorito

de quantos vivem penando;

e sinto de vez em quando

que esta salutar bebida

só prolonga minha vida

e a saudade vai matando...













































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11 - Ialmar Pio Schneider - Versos gauchescos

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