sábado, 18 de agosto de 2012

Conto de Ialmar Pio Schneider - Imagem da Internet





ESTÓRIA DO PERDIGÃO



IALMAR PIO SCHNEIDER



Surgem da sabedoria popular, no campo ou na cidade, estórias que ficam registradas e se tornam, por assim dizer, folclóricas. Esta que procurarei relatar a seguir, tendo-a adaptado a circunstâncias reais, em parte, já persiste há muito tempo. Foi-me contada em certa ocasião, se não me falha a memória, por um peão de estância, sentado ao redor de um fogo de chão, tomando mate, lá na minha terra.

Espero que a anedota, mais do que tudo um chiste, possa trazer ao leitor um toque de humor nestes dias tão sérios que atravessamos, não obstante tenha nascido aleatoriamente da imaginação. Ainda quero pensar que é válido investir na tragicomédia da vida para não enlouquecer, ou como falava um velho colega: “não ficar mais louco”...

Durante a nossa infância lá na Vila Sertão, àquela época, tínhamos que ajudar na manutenção da família. Meu irmão Remi, após ter estudado no pré-seminário de Tapera, voltara para casa e fora trabalhar em uma olaria a uns 4 quilômetros. Todas as manhãs seguia cedo para o local, a pé, e ao passar por uma sanga, avistava uma coxilhazinha onde sempre pastava um perdigão.

Levando um farnelzinho com o alimento para o meio-dia dentro de uma sacola feita de riscado, pendurada no ombro, fazia de contas que o bastão que tinha para se defender de algum cachorro era uma espingarda e apontando-o contra a ave puxava o gatilho e dava um tiro: “Paááá”.

O perdigão saía voando, batendo as asas. E assim passaram-se muitos dias, talvez um mês, e sempre a mesma cena. Mas um belo dia não voou e caiu na grama. Meu irmão correu e pegou-o; como estava já perto da olaria, levou-o para o serviço, dizendo ao patrão que não havia atirado, pois nem arma tinha e o mesmo parecia estar morto. Então o oleiro, embarcando no jipe, resolveu consultar o veterinário que residia a uns dois quilômetros dali, para saber o que havia acontecido. Este, examinando a ave por fora, afastando as penas, não encontrou ferimento algum e disse que para saber-se só abrindo. Foi consentido que assim o fizesse, já que seria a única maneira de elucidar a causa da morte. De imediato, o veterinário, usando de toda a perícia, cortou o perdigão ao meio. Começou a examiná-lo por dentro e sem mais nem menos disse: - Aconteceu uma coisa incrível com este perdigão!

Pediram para dizer-lhes o que havia sucedido. Nunca tinha visto coisa igual.

- Estourou o saco do perdigão! - respondeu o perito.

Tinha acontecido o óbvio ululante, pois meu irmão todos os dias só ameaçava e nunca o matava, até que estourou o saco do perdigão, de tanto assustá-lo.

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Poeta e contista -

Publicado em 13 de setembro de 1999 - no Diário de Canoas.

 

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