sexta-feira, 11 de junho de 2010

CRÔNICA de IALMAR PIO - AQUARELA de ÂNGELA PONSI

Aquarela de Ângela Ponsi


ONTEM E HOJE

IALMAR PIO SCHNEIDER

Algumas vezes, de tardezinha, sentado à sacada do apartamento, quando o sol vai declinando, fico a contemplar os pássaros que voltam aos seus ninhos, após a jornada rotineira. Lembro-me, então, do soneto de Raimundo Correia, “As Pombas”, que decorei faz tanto tempo, como segue: “Vai-se a primeira pomba despertada.../ Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas / De pombas vão-se dos pombais, apenas / Raia sangüínea e fresca a madrugada...// E à tarde, quando a rígida nortada / Sopra, aos pombais de novo elas, serenas, / Ruflando as asas, sacudindo as penas, / Voltam todas em bando e em revoada...// Também dos corações onde abotoam, / Os sonhos, um por um, céleres voam, / Como voam as pombas dos pombais; // No azul da adolescência as asas soltam, / Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam, / E eles aos corações não voltam mais...”
Então, permaneço a meditar nos dias de outrora, na juventude que já vai longe, mesmo quando aportei aqui em Canoas, nos idos de 1967, e a cidade, desenvolvendo-se vertiginosamente, era considerada a que mais crescia. Se não me falha a memória, não existiam ainda edifícios com elevadores, sendo o primeiro de que me recordo o Ed. Damaso Rocha, na esquina das ruas XV de Janeiro com Fioravante Milanez, onde começou a funcionar a Caixa Econômica Federal, e outros apartamentos residenciais. O Banco do Brasil funcionava no pavimento térreo do clube Caça e Pesca, onde trabalhei por algum tempo, tendo mais tarde exercido também minhas funções no prédio da rua XV de Janeiro, e depois, no da esquina da mesma rua com a Frei Orlando. Assim o Banco contribuiu com dois prédios para o progresso da cidade. No meu entender, como acontece em Porto Alegre, deveríamos ter mais agências espraiadas por aí, facilitando para os clientes.
Na rua Tiradentes, hoje o calçadão, havia calçamento por onde transitavam os carros que não eram muitos. Lembro-me da minha Simca Chambord - “três andorinhas”, preta, estofamento vermelho, que estacionava em frente à casa do antigo dentista que me alugava um quarto que, certa noite, quase queimou devido a um “boa-noite” que havia acendido para espantar os mosquitos, e no qual caíram as cobertas. Bem defronte ficava um cinema que muito freqüentei.
Naquele ano longínquo ocorreu uma enchente que alagou o bairro Harmonia, vindo água até próximo ao Bazar Natal, lembro-me que a fábrica dos Móveis Esplêndidos estava submersa. Também foram atingidos os bairros Rio Branco e Niterói, onde vi pessoas transportando móveis em canoas, vindo para a federal que é como chamavam a Av. Getúlio Vargas. Observando por estes dias as chuvas que alagaram diversos locais da grande Porto Alegre, despertou-me a lembrança daquela época. Pode ser que não era melhor que agora, mas éramos mais jovens e quem sabe mais felizes...
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Poeta e cronista
Publicado em 22 de junho de 1999 - no Diário de Canoas.



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