Na sala do ape da Siqueira Campos - Centro Porto Alegre - RS
REINÍCIO
Ialmar Pio
Schneider
De quando em vez se punha a pensar nas grandes obras que os
mestres da Literatura Universal haviam criado e sentia-se, por assim dizer,
diminuído, perante aqueles monumentos excelsos do pensamento, inteligência,
arte e engenho humanos; isto porque sabia que jamais atingiria os píncaros
daquela glória inaudita. De fato, ao se dar conta, os anos tinham passado e
Otávio não havia produzido quase nada, apesar de que, outrora, quisera ser um
notável escritor. Entretanto, desde cedo tivera que enfrentar o mercado de
trabalho para viver, e ao conseguir certa posição na sociedade, quase que
esquecera seu propósito, mas agora uma semente surgia no fundo do seu cérebro e
ele, aposentado, procurava fazê-la germinar sem maiores pretensões, a não ser a
de cumprir, enfim, o seu destino. Estava ciente de que possuía o livre-arbítrio,
não obstante soubesse de suas limitações. Todavia, não iria seguir aquele
caminho de Marcel Proust em “À Procura do Tempo Perdido”, mesmo porque já o
havia ultrapassado em idade, e não demonstrava toda aquela excentricidade.
Considerava-se um homem comum.
Apesar de não haver seguido a carreira literária, sempre
obtivera boas notas e elogios dos professores, em suas redações, quando cursara
o ginásio e o científico dos Irmãos Maristas. Lembra-se de que certa vez, ao
escrever uma dissertação, empregou a palavra “majestosa” com “g”, e ao receber
a nota de 9,5, foi alertado com a seguinte expressão: “Cuidado ! Erro que parece fio de cabelo em sopa
gostosa”.
Hoje, ao lembrar essa advertência, Otávio procura reiniciar
sua jornada rumo à prosa de ficção, sentindo como que um impulso alentador a
fim de enfrentar esta tarefa para o resto de seus dias. Sabe, entretanto, que o
caminho é árduo e inúmeras dificuldades se apresentarão à sua frente,
considerando que a vida são degraus a galgar em etapas. O ofício a que
se propõe requer a paciência de um Jó e a pertinácia de um Moisés, resguardadas
as proporções. Ainda ontem ouviu um velho poeta dizer: “Escrever difícil é
fácil, mas escrever simples é difícil.”
Talvez, quem sabe, amanhã possa acrescentar algo ao acervo
cultural e repetir com Thomas Carlyle: “Nenhum grande Homem vive em vão. A história da
Humanidade não é mais do que a biografia dos grandes Homens.”
Assim pensa Otávio em seu recanto, reorganizando suas
memórias, reunindo seus antigos rascunhos e recolhendo o que sobrou da
voracidade do tempo.
DC
(17-07-1998)
em
25.7.2010
JORNAL
NH em 25.7.2010
DIÁRIO
DE CANOAS EM 15.12.09
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