quinta-feira, 31 de maio de 2012

Dia mundial de luta contra o tabaco - 31 de maio - Imagem da Internet





A FUMICULTURA E O TABAGISMO






IALMAR PIO SCHNEIDER






Esses dias tive a oportunidade de assistir à Audiência Pública da Comissão e Defesa Nacional Convenção-Quadro sobre o Controle do Tabaco, gravado em 06/12/2004 pela Unisc TV, de Santa Cruz do Sul, retransmitida pela TV Senado, na tarde de 11/01/2005, a respeito do assunto acima, sob a presidência do Senador Eduardo Suplicy, e as falas dos representantes de várias classes foram contundentes. É uma decisão difícil, diria de sabedoria salomônica, posicionar-se de um lado ou de outro, principalmente quando abrange a parte econômico-financeira e a saúde dos homens. Julgo de bom alvitre ir-se desenvolvendo a transição gradativamente, apesar de que deixar de fumar exige uma ruptura radical do usuário, que, invariavelmente, se tornou dependente. Se a fumicultura representa um ganho de vida de cerca de R$ 28.000,00 (vinte e oito mil reais) por ano, para famílias de agricultores de pequeno porte, ou seja, com reduzidas áreas de terras, também o tabagismo é uma doença crônica que, fatalmente, reduz a vida humana e leva à morte prematura dos escravos do vício. As estatísticas médicas estão aí para serem comprovadas.


Eu não tenho a mínima pretensão de expor cientificamente os males do fumo, mas posso confirmar que pessoas de minhas relações, ou seja, meu próprio genitor, que lembro com carinho, sendo fumante por muitos anos e ainda sedentário, devido a cravos nas solas dos pés que o acometiam, faleceu de infarto fulminante do miocárdio, aos 63 anos de idade. Senti muito a sua ausência mas, apesar de tudo, fui também fumante por muito tempo e tive a graça de largar do cigarro, agora faz cerca de 10 anos, com sucesso até aqui. Deus queira que para sempre. Também não sou ninguém para dar conselhos, que só se os dá, dizem, a quem os pedem. Cada um deve sentir em sua própria carne o que o prejudica e usar do bom senso, ao conviver com as pessoas que os cercam, a fim de não afetá-las. Felizmente, hoje em dia já se tem mais informações da gravidade do uso e abuso do fumo, em qualquer de suas modalidades: cigarros, palheiros, charutos, cachimbos... e se utilização destes torna a boca torta não é nada, em face do que pode acarretar um câncer. Desculpem-me a crueza da exposição da matéria, mas é caso sério. Quanto a mim, se muito não me atingiu o tabagismo, tenho a dizer que, uma vez tendo ouvido do Dr. Edmundo Laranja da Silva, importante médico cirurgião, em um elevador do Hospital Mãe de Deus, afirmar que se alguém não deixar de fumar nunca vai conseguir curar uma úlcera, abri meu olho, pois já havia tido duas úlceras, sendo uma do duodeno e outra gástrica. Vivia, naquela época, às voltas com as endoscopias e remédios para cicatrizá-las (as úlceras), que até já me esqueci dos nomes, e com o Dr. Ênio Fialho Carpes, endocrinologista competente que as realizava seguidamente. Graças a Deus, depois que parei de fumar não as tive mais. Quero deixar este relato como depoimento para confirmar a importante decisão que tomei em minha vida, ao abandonar o tabagismo. Penso que fui inteligente...


Por último, desejo escrever meu soneto abaixo, publicado no jornal O Paladino, de Soledade - RS, em 1966, e constante do meu livro Poesias Esparsas Reunidas, pgs. 13, que fumar não leva a nada, mesmo que se esteja: Em Solidão --- Fumaça que nasceu do meu cigarro/ e morre pelo espaço na investida/ de ser alguém, de ter u’a longa vida:/ assim é o homem que nasceu do barro.// Oh! quantas vezes na saudade esbarro/ e a solidão a descansar convida;/ talvez não sinta que a fatal descida/ seja o fruto do sonho mais bizarro!// E procuro seguir o meu caminho,/ sem refletir, no entanto, que sozinho/ é mais árdua a jornada do infeliz;// e que se a morte o surpreender um dia,/ há de encontrá-lo na manhã vazia,/ sem nada ter de tudo quanto quis!


Eis a modesta contribuição, se assim a julgarem os leitores, de um ex-fumante... Reflitam neste sentido, amigos !


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Cronista e poeta - E-mail: menestrel@brturbo.com


Publicado em 02 de fevereiro de 2005 – no Diário de Canoas.


 

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Falecimento do poeta Francisco Otaviano em 28.5.1889 - Imagem da Internet





SONETO a FRANCISCO OTAVIANO de Almeida Rosa – Falecimento em 28.5.1889 – In Memoriam - em 28.5.2011 - . -







Um soneto: “Morrer... Dormir...” Um verso:


as “Ilusões da Vida”; eis a bagagem


que tenho em mãos, mas vale um universo,


pois tudo dizem de sua passagem






por este mundo que julgou perverso...


Foi Francisco Otaviano, de coragem,


neste resumo simples e disperso,


merecedor de glórias e homenagem...






Mas, foi também “enviado extraordinário”


e “Ministro Plenipotenciário”,


p´ra negociar a Tríplice Aliança...






Além do mais, poeta e diplomata,


conseguiu para o Brasil, no Prata,


Tratado de recíproca confiança...






IALMAR PIO SCHNEIDER
 
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terça-feira, 22 de maio de 2012

Dia do Abraço - 22 de maio - Imagem da Internet







SONETO PARA ALGUÉM AUSENTE







Onde estiveres mando-te um abraço


Para que saibas que te quero tanto,


Sem teu amor deploro meu fracasso


E a minha vida já perdeu o encanto.






Pretendo andar contigo passo a passo


E se preciso for, secar teu pranto...


Terás o meu apoio no cansaço


E só por ti desprenderei meu canto.






Entretanto, vivemos separados;


Mas eu necessitando teus agrados


E tu, talvez, os meus carinhos queiras.






Entraste em meu destino com doçura


Que hoje és a inesquecível criatura


Fazendo-me sofrer noites inteiras.






IALMAR PIO SCHNEIDER





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segunda-feira, 21 de maio de 2012

Outono - Imagem da Internet







O OUTONO



IALMAR PIO SCHNEIDER



Quando surge o outono e as folhas começam a cair, meu pensamento se volta aos tempos em que, de pés descalços, na minha infância, caminhava sob os bosques a despojar-se de sua verdura, cumprindo os ditames da natureza. É também a época da colheita de muitas frutas silvestres e isto compensa certa tristeza que desperta a paisagem. Não é por nada que os grandes autores se ocuparam com esta estação do ano que parece ir definhando rumo ao inverno que se aproxima. Ainda há pouco estive lendo um poema, em francês, do grande vate romântico Alphonse De Lamartine, “L’AUTOMNE”, que diz, no início: “Salve, bosques coroados de um resto de verdura !” E ele descreve os últimos dias sombrios que representam, por assim dizer, o luto da natureza.

Por outro lado, chega ao ponto em que no auge de sua melancolia, expressa seu desespero e fala assim: “Talvez o futuro me guarde ainda / um retorno à felicidade cuja esperança é perdida ! / Talvez, na multidão, uma alma que eu desconheço / compreenderá minh’alma e me terá correspondido !...” Desta maneira, o outono representa também a chegada da idade madura e princípio da velhice, pois é o tempo da colheita do que se plantou ao longo da existência. E aí o poeta canta sua desilusão de amor, já que na escola do romantismo, a tristeza que acometia os autores de poesia, considerada “o mal do século”, se fazia sentir em todas as produções literárias. Não foram poucos os que naufragaram nos mares da loucura ou se fizeram vítimas de sua mórbida imaginação de incompreensão e nostalgia; muitos ceifados em plena mocidade pela tuberculose, doença para a qual não havia cura.

Hoje em dia, a ciência avançou, vieram as grandes descobertas no ramo da medicina, o tema também tomou outro rumo e os cultores da arte poética, cada vez mais, foram atingindo idades avançadas. Só para citar cinco dos grandes poetas do modernismo, ou seja, o nosso Mário Quintana, o pernambucano Manoel Bandeira, o mineiro Carlos Drummond de Andrade e os paulistas Guilherme de Almeida e Menotti del Picchia, chegando próximo aos noventa anos de idade. Não poderia deixar de lado outros tantos que por motivos óbvios ora não nomeio, escusa-me desculpar-me. Em outra oportunidade, quiçá, me penitencie desta falta.

Entretanto, quando chega o outono e vemos as folhas caindo, sentimos que é o ciclo da natureza que vai cumprindo seus desígnios e nós somos tomados de mais uma contemplação da seara a ser colhida.

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Poeta e cronista

Publicado em 11 de abril de 2000 - no Diário de Canoas.

http://ialmar.pio.schneider.zip.net/

http://ial123.blog.terra.com.br/

EM 01.05.2009

http://ialmarpioschneider.blogspot.com/

em 20.05.2010

http://ial123.blog.terra.com.br/

em 3.6.2011


sexta-feira, 18 de maio de 2012

Poesia de Ialmar Pio - Imagem: aquarela de Ângela Ponsi


Aquarela de Ângela Ponsi




Mensagem


ao poeta






Vai em frente, segue a estrada


sem muito esperar da glória,


vida simples, devotada...


Se alguém ouvir tua estória


nostálgica e merencória,


canta sempre, até por nada !...






Faze como o passarinho


que saúda a natureza,


enquanto busca um raminho,


com afã e singeleza,


pra construir o seu ninho:


- maior prova de beleza !






Sejam teus versos cantigas


que a gente escuta na rua,


pobres canções, mas amigas


como as estrelas e a lua;


pois a terra será tua


longe de dor e fadigas...






Não temas crítica austera


e nem te afastes do tema,


sempre alcança quem espera;


prosseguir seja teu lema


e verás a primavera


coroar-te com seu diadema !






IALMAR PIO SCHNEIDER






pág. 10 - o timoneiro - 20.11.81 - Canoas (RS)



sábado, 12 de maio de 2012

Dia das Mães - 13 de maio - Poema de Ialmar Pio - Tela N. Sra. Sch"onstatt de Glaucia Scherer






Do Bric-à-Brac da Vida NILO TAPECOARA






Publicado no CORREIO DO POVO em 4.11.1981


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VERSOS PARA A MÃE






à minha mãe Amábile – In Memoriam






O meu verso maior vai para a mãe


que pelo amor ao filho tudo deixa;


as glórias vãs do mundo, sem pretextos,


envolta em sacrifícios não se queixa...






E quando ela o aninha em seus braços


fazendo-o dormir, embala-o e canta,


não aparenta ser aqui da terra;


é uma imagem dos céus, é uma santa.






Por isto, mãe querida, não te esqueço,


contigo quero estar a qualquer hora,


foste tudo pra mim, foste o começo...


Trazes no coração Nossa Senhora...






IALMAR PIO SCHNEIDER


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domingo, 6 de maio de 2012

Nascimento do psiquiatra austríaco, fundador da psicanálise - 6.5.1856 - Imagem: foto na Internet






VICISSITUDES DE SIGMUNDO FREUD



Ialmar Pio Schneider



O dia 6 de maio de l856, portanto, há 154 anos, é a data de nascimento do médico austríaco, criador da Psicanálise, a que chamam também de “ciência da alma”, Sigmundo Freud, na cidade de Freiberg, Morávia. Seus estudos a respeito do comportamento humano vieram revolucionar a psicologia até então existente. Nesta área pode-se dizer que é antes e depois de Freud. Iniciou sua aprendizagem em Viena, no Spert-Gymnasium, obtendo as melhores notas da classe. Admirava as personalidades de Aníbal e de Napoleão, o que, conforme algumas opiniões, deu-lhe um temperamento forte ao caráter. Escreveu, mais tarde, sobre a sua admiração infantil por Aníbal e Roma, dizendo que ambos “simbolizavam a oposição entre a tenacidade do judaísmo e a organização da Igreja Católica. Compreendi as conseqüências de pertencer a uma raça alheia ao país, e fui forçado, diante do sentimento anti-semítico reinante entre meus condiscípulos, a assumir posição resoluta, como a do caudilho semita.”

Quando ingressou na Universidade de Viena, onde viria a se formar em medicina em 1881, passou alguns vexames devido à sua condição de judeu pobre. Entretanto, sobressaiu-se pelo seu talento excepcional. Conseguiu distinguir-se em matéria de investigação fisiológica, com demonstrações notáveis, junto com seu mestre Ernesto von Brücke.

Concluído o curso médico, tendo trabalhado algum tempo no Hospital Geral de Viena, resolveu em 1885, empreender uma viagem a Paris a fim de estudar com Jean-Martin Charcot, eminente professor e famoso por suas contribuições em matéria de doenças nervosas, que realizava experiências através do emprego do hipnotismo, demonstrando que as enfermidades corporais tinham origem no espírito da pessoa. Regressou a Viena e expôs as teorias de Charcot à Sociedade Médica local, mas foi recebido com chacota pela maioria dos médicos presentes. Um deles, porém, admitiu sua explanação. Tratava-se do seu velho amigo José Breuer, que já havia empregado com êxito a hipnose num tratamento de caso de histeria. Ambos, então, Freud e Breuer, se envolveram durante 9 anos no mesmo objetivo. Durante este período Freud realizou uma segunda viagem a Paris, para verificar “in loco”, aplicações realizadas com sucesso por Hipólito Bernheim. Contudo, depois disso, Freud abandonou o método hipnótico no tratamento das neuroses e resolveu seguir seu próprio caminho. Havia publicado, conjuntamente com seu mestre e colaborador Breuer, a obra “Estudos sobre a histeria”, no ano de 1895.

Dispensa a colaboração de Breuer, naquele mesmo ano, e voltado para a concepção dos impulsos sexuais, publica um estudo intitulado “Neurose da angústia”, em que lançou ao mundo incrédulo as bases da doutrina da psinanálise, ou psicologia abissal, das “profundidades”. Consta que a psicanálise foi recebida com hostilidade e repugnância, e o próprio Freud com todo o desprezo. Mas ele não se deixou vencer pelo preconceito e continuou a labutar em seus objetivos, apesar das vicissitudes, e publicou incontinenti, as obras: “Interpretação dos sonhos” e a “Psicopatologia da vida cotidiana”, em que estabeleceu os conflitos criados pela “alma” humana. Estavam lançadas as bases da sua doutrina. Observe-se que em “Conceitos Básicos da Psicanálise – Um diálogo”, Freud escreve: “Não se esqueça do que disse certa vez o poeta-filósofo Schiller: “Enquanto a filosofia sublime/ Rege, supremamente, o curso do tempo/ O Mundo, seguindo o velho costume,/ Se move pela fome e pela paixão.” Fome e Paixão – são dois agentes poderosos ! Às necessidades do nosso corpo que estimulam o espírito à ação, chamamos impulsos instintivos.””

Finalizo o presente esboço modesto, com o simples intuito de atentar para o que Freud explica, não obstante a expressão corrente de surpresa, por vezes empregada: nem Freud explica.

Até outra oportunidade...

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Cronista colaborador

Publicado em 11 de maio de 2005 – no Diário de Canoas. – RS



sexta-feira, 4 de maio de 2012

Falecimento do poeta e escritor Paulo Setúbal - 4.5.1937 - Imagem: foto na Internet







A OBRA DE PAULO SETÚBAL



IALMAR PIO SCHNEIDER



Escritor elegante, poeta de a Alma Cabocla (poesias), romancista histórico de O Príncipe de Nassau, e A Marquesa de Santos (considerada sua obra-prima, com tradução em vários idiomas), além de outros, num total de 13 livros, e as suas memórias de o Confiteor (sua autobiografia, que foi publicada postumamente), Paulo Setúbal, foi um autor que conheci nos idos de 1957, quando cursava o ginásio. Logo me atraíram suas poesias, de cunho ultra-romântico, em que falava de sua terra natal Tatuí, interior do Estado de São Paulo, amores diversos da juventude (moita de rosas, floco de espuma, sertanejas e poesia inédita), imprimindo a seguinte dedicatória no seu livro de versos: “A ti, minha mãe, que és a melhor das mães, estes despretensiosos versos da nossa terra e da nossa gente.” Depois enveredou para a prosa, tendo produzido romances, contos históricos, memórias, crônicas, episódios históricos e ensaios, que o levaram à Academia Brasileira de Letras em 1934, com apenas 41 anos de idade, pois nascera em 1893. Na ocasião pronunciou sincero discurso que arrematava com as seguintes palavras de agradecimento: - “Mas deixai também, meus senhores, que nesta linda hora risonha, em que as emoções mais íntimas se atropelam dentro de mim, deixai que, mal acabe de vos agradecer, eu me ausente precipitado destas galas. Sim, deixai que o meu coração voe para longe daqui, fuja para a minha estremecida cidade de São Paulo, e lá, comovido e respeitoso, penetre por um momento, muito de manso, numa casa modesta de bairro sem luxo. Nessa casa, a estas horas, nesta mesma noite, está uma velha toda branca, oitenta anos, corcovada, com o seu rosário de contas já gastas, a rezar diante da Virgem pelo filho acadêmico. Pelo filho que ela, a viúva corajosa, ramo desajudado, mas altaneiro, de família opulenta, criou, educou, fez homem - Deus sabe com que sacrifícios e com que ingentes heroísmos obscuros ! Deixai pois, senhores acadêmicos, que o meu coração voe para a casa modesta de bairro sem luxo, entre no quarto do oratório, ajoelhe-se diante da velha branquinha, beije-lhe as mãos, e, na brilhante noite engalanada deste triunfo, diga-lhe por entre lágrimas: - Minha mãe, Deus lhe pague !” Três anos após, entretanto, faleceria, em 1937, interrompendo uma trajetória literária promissora e recebeu do P. Leonel Franca S. J., o exórdio: PAULO SETÚBAL ! “Na plenitude dos anos, o anjo da morte bateu-lhe à porta para acompanhá-lo ao descanso eterno dos justos. Os admiradores da sua obra literária lamentam, inconsoláveis, o desaparecimento prematuro do artista da palavra. No firmamento das letras foi o seu brilho fugaz como o de um meteoro. Os que, nos últimos tempos, lhe conheceram de perto as ascensões espirituais choram a perda irreparável de um apóstolo cujas irradiações benéficas poderiam amanhã estender-se em ondas de incomensurável amplitude.”

Apesar da glória que atingiu em tão pouco tempo, para mim será sempre o poeta de versos simples quais os que se seguem: “SÓ TU - Dos lábios que me beijaram,/ Dos braços que me abraçaram,/ Já não me lembro, nem sei.../ São tantas as que me amaram !/ São tantas as que eu amei !// Mas tu - que rude contraste ! - / Tu, que jamais de beijaste,/ Tu, que jamais abracei,/ Só tu, nest’alma, ficaste,/ De todas as que eu amei...”

E destes outros que decorei, em certo tempo de minha vida, na adolescência, e sempre me pediam que declamasse, em festinhas que freqüentava, onde correu um boato que eu havia me apaixonado por uma noiva, ou melhor, seria apaixonado por alguém que agora seria noiva. Devo dizer que não passa de lenda, embora não seja tão famoso assim. Lá vai: “SÊ FELIZ ! - És noiva... Em breve há de raiar o dia,/ Festivo, azul, vibrante de alegria,/ Que te sorri num céu de rosicler./ Irás à igreja. E, num altar formoso,/ Branca de anseio, trêmula de gozo,/ Verás florir teu sonho de mulher !// Oh! Nessa noite, o baile terminado,/ Ao te despires para o teu noivado,/ Sonhando os sonhos que a paixão te diz,/ Tu hás de ouvir, na alcova silenciosa,/ O tom queixoso duma voz queixosa,/ Que te dirá baixinho: Sê feliz !// E, pálida de susto, ao escutá-la,/ Hás de reconhecer a minha fala,/ Ouvindo a minha voz naquela voz !/ E hás de sentir, como jamais sentiste,/ O fel que vai naquele verso triste,/ A dor que punge aquela frase atroz...

Só para complementar, esses dias, passei por um dos “becos dos livros”, e adquiri a obra completa de Paulo Setúbal, edição Saraiva, de 1954, em perfeito estado de conservação, para não dizer novos. Acredito que nem tenham sido abertos e folheados. São treze volumes que pretendo ler aos poucos, como quem curte uma saudade de um tempo bom de outrora. Contava com menos de dezoito invernos e talvez era feliz sem saber. A vida é assim mesmo...

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Cronista e poeta

Publicado em 26 de junho de 2002 - no Diário de Canoas.


quarta-feira, 2 de maio de 2012

Crônica de Ialmar Pio - Falecimento do poeta francês Alfred de Musset em 2.5.1857 - Imagem: retrato na Internet


Alfred de Musset





O POETA E O PELICANO


IALMAR PIO SCHNEIDER


Estava eu a matutar no que iria escrever nestas horas monótonas de minha vida, quando me deparei com uma poesia da época romântica francesa que traduzimos na adolescência, ao cursarmos o Científico. Lembro-me que o professor de francês no Colégio Nossa Senhora da Conceição de Passo Fundo - RS, era o irmão marista Érico, cujo apelido carinhoso era “Foquinha”, e que ao ler as poesias em voz alta ele se empolgava transmitindo uma emoção ímpar e que todos ouvíamos em silêncio, no original desta língua tão melódica quanto sonora, no meu mero entendimento. O livro em que estudávamos era o Cours de Français, de Augusto R. Rainha e José A. Gonçalves, e nas páginas 35, 36 e 37, constava a minibiografia do autor e a poesia a que me refiro, como segue: “Época Romântica - A Poesia - MUSSET (1810-1957) - 1 - Alfred de Musset nasceu em Paris, onde após excelentes estudos, partiu do Cenáculo e se engajou no romantismo. Entretanto, não tardou a retomar uma independência da qual era cioso (ciumento). Levou, durante algum tempo, uma vida licenciosa que lhe não deixa senão remorso e desencantamento. Tornou-se então um poeta apaixonado. É o período de sua grande poesia.

Este poeta tão grande e tão maravilhoso, é Enfant du siècle (Filho do século), como ele gostava de se chamar a si mesmo, e morreu na idade de quarenta e sete anos.

2 - Suas Obras Líricas estão reunidas em dois volumes: Primeiras Poesias (Contos da Espanha e da Itália); Novas Poesias (as Noites), a melhor parte da obra do poeta. - 3 - Musset é antes de tudo o “poeta do amor”. É seu princípio que “toda a obra literária consiste em abrir seu coração e a penetrar no coração do leitor”. “Ah ! bate de encontro ao teu coração: é lá que está o gênio” - escreveu. É um poeta todo pessoal (original), não gostava de imitar: “Mon verre n’est pas grand, mais je bois dans mon verre.” (Meu copo não é grande, mas eu bebo no meu copo).”

Após este prólogo tão interessante quanto necessário, a meu ver, em tradução minha adaptada, vamos à poesia: “O PELICANO - Qualquer preocupação que sofras em tua vida,/ Oh! deixa dilatar-se, esta santa ferida/ Que os negros serafins têm cavado em teu peito/ Nada nos faz tão grandes como um sofrer perfeito./ Mas, por estar atento, não creias, ó poeta,/ Que no Mundo a tua voz deva ficar quieta !/ Os mais pungentes são os cânticos mais belos,/ E eu conheço imortais que são tristes anelos./ Quando o pelicano, em longa viagem solta,/ Nas brumas da tardinha aos seus caniços volta,/ Famintos filhos seus caminham sobre a praia,/ Vendo-o esbater-se ao longe em cima às plúmbeas águas/ Já crendo em apanhar e repartir a presa/ Eles correm ao pai com gritos de alegrias/ Erguendo os bicos sobre as gargantas frias./ Ele, galgando a passos lentos uma rocha elevada,/ Em sua asa pendente abrigando a ninhada,/ Pescador melancólico, ele olha os céus./ O sangue corre em golfadas em seu peito aberto;/ Em vão dos mares escavou a profundeza:/ O Oceano estava vazio e a praia deserta;/ Por todo alimento ele traz seu coração./ Sombrio e silencioso, estendido sobre a pedra,/ Repartindo aos seus filhos suas entranhas de pai,/ No seu amor sublime embala a sua dor,/ E, olhando escorrer seu peito a sangrar,/ Sobre seu festim de morte ele se prostra e cambaleia,/ Ébrio de volúpia, de ternura e de horror./ Mas às vezes, no meio do divino sacrifício,/ Fatigado de morrer em tão longo suplício,/ Ele acredita que os filhos o deixem vivendo;/ Então soergue-se, abre sua asa ao vento,/ E, ferindo-se o coração com um grito selvagem,/ Solta dentro da noite um tão fúnebre adeus,/ Que os pássaros dos mares desertam a beira-mar,/ E que o viajor demorado na praia,/ Sentindo passar a morte, se recomenda a Deus.” (La Nuit de Mai (1835).

Ao findar este mês de maio em pleno outono, quis prestar uma homenagem in memoriam a este inigualável poeta romântico francês que com seu poema( inserido em Noites de Maio), demonstrou até onde vai o amor paterno e materno, sacrificando sua própria vida para que seus filhotes continuem a viver. É uma lição divina da natureza.

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Poeta e cronista - E-mail: rs080254@via-rs.net

Publicado em 28 de maio de 2003 - no Diário de Canoas.


terça-feira, 1 de maio de 2012

Soneto de Ialmar Pio - 1º lugar no site de sonetos hoje - Imagem da Internet








MINHA POESIA







Minha poesia desprendeu-se inútil


de um amor importuno de quimeras


que mais incompreendido do que fútil


pereceu esperando primaveras.






Oh! Jorge dá-me a Túnica Inconsútil,


quero fugir do mundo e suas feras


que o céu brilhante há de entregar-me dúctil


a pedra que foi rígida deveras.






Quanta esperança caminhou comigo


e não pude afastar este castigo


de prever coisas belas pela frente;






e tarde vejo todos os desejos


se transformarem nestes meus solfejos


que ferem fundo o coração da gente.






IALMAR PIO SCHNEIDER
 
 
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