segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Dia do idoso (lei n° 11.433 de 28 de dezembro de 2006) - Imagem da Internet






O IDOSO APAIXONADO



Ialmar Pio Schneider



Quem se dispõe a passar algumas horas sentado num banco da praça da Alfândega em frente aos cines Guarany e Imperial, de repente pode assistir a um instantâneo, no mínimo burlesco, qual se descreve abaixo. Faz parte das cenas urbanas que não deixam de ser até certo ponto apreciadas, não obstante, às vezes jocosas e risíveis. Isto não aconteceu ao nosso herói, mas ele as presenciou em diversas oportunidades, conservando-se, no entanto, timidamente, na solidão recôndita, apenas curtindo o sentimento de foro íntimo que o acompanha qual a própria sombra.

Contudo, agora sentira na carne o que representava uma paixão tardia, ainda mais alimentada por certos conselhos ou insinuações de colegas que o faziam para instigar-lhe o interesse por alguém mais jovem. Ainda não queria se considerar coroa, apesar de já estar na terceira idade. Sempre ouvira dizer que vale o espírito mais que a matéria.

Sua vontade era esquecer aquela moçoila que vira num certo dia, atravessando a rua em frente à praça, seguindo rumo ao shopping da Rua da Praia. No auge dos seus sessenta anos, Rodrigues achava ridículo apaixonar-se por alguém de vinte, que poderia ser-lhe neta; e sentado num banco, junto com outros companheiros aposentados, ficava imaginando no que lhe dissera o Torres, num entardecer de outubro: - “Cavalo velho, pasto novo !” De fato, a idade chegara, quase sem que se desse conta, mas ele nunca deixou de apreciar a estética feminina, e aquela moça parecia uma estátua de Fídias, uma Amazona. Sentia-se, entretanto, retraído, pois já presenciara, ali mesmo, certos velhos que mexiam com as meninas serem escorraçados com as seguintes expressões: “Vai conhecer o teu lugar, coroa !” “Te fraga, velho caduco !” “Não te conhece ?” - e outras mais.

Entretanto, desta vez, não iria desistir. Estudava uma maneira de aproximar-se do fruto do seu bem-querer, ainda, que para tanto, fosse necessário sacrifício e dedicação. Nesta quadra da vida, a pessoa se torna mais afável quanto ao estímulo do amor, embora haja quem diga que o velho seja ranzinza. Isto depende de cada sujeito. Todos têm o seu temperamento e Rodrigues é um romântico-melancólico. Chega em seu quarto de pensão e liga o rádio. Casualmente, na Rádio Liberdade, escuta o Sérgio Reis cantando - “panela velha é que faz comida boa” de Moraesinho e fica satisfeito. Existe alguém que o compreende.

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Poeta e contista

Publicado em 05 de julho de 1999 – no Diário de Canoas.

http://ial123.blog.terra.com.br

EM 08.04.08

em 15.6.2011


Um comentário:

  1. Querido amigo... Antes os casamentos eram impostos pelo pais, hoje são acordos financeiros e o romantismo se perdeu entre os poetas, os loucos e os sensíveis, como o seu protagonista. Adorei o texto. Abraços. Cidinha

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