quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

CRÔNICA de IALMAR PIO - IMAGEM - Foto de OLAVO BILAC da INTERNET

Olavo Bilac














O POETA E O DINHEIRO

IALMAR PIO SCHNEIDER

Dizem que “o dinheiro é a mola do mundo”; e disto não discordo. Terminei de ler um ensaio de Olavo Bilac, intitulado O Dinheiro, que foi tema de uma conferência proferida no Instituto de Música do Rio de Janeiro, pelo ínclito vate, considerado o mais ardoroso, espontâneo e natural dos representantes do Parnasianismo brasileiro. No texto em que discorre sobre o assunto, às vezes acusa e em outras defende o dinheiro, sempre referindo diversos autores que já se ocuparam do mesmo. É uma leitura muito agradável que abrange os vários aspectos, prós e contras do uso do numerário que tanto pode ser “ o grande corruptor, o grande envenenador das almas, o grande prostituidor das consciências”, assim como diz: “Camões escreveu Os Lusíadas com fome? Mas escrevê-los-ia do mesmo modo com o estômago farto. E já não há poeta que se atreva a dizer que detesta o dinheiro. Chateaubriand, o lírico Chateaubriand, o ideólogo dos ideólogos , o meigo René, o criador da vaporosa Cimodocéia e da suave Atala, sempre teve pelo dinheiro um respeito que se compreende bem; foi ele quem escreveu: Ó dinheiro ! Com dinheiro, as pessoas são belas, jovens, amáveis; obtém consideração, honra, posição, virtude; sem dinheiro, ficam na dependência de todas as coisas e de todo mundo.” Digamos, nem tanto ao mar nem tanto à terra... Escreveu, nosso poeta gaúcho maior: “O dinheiro não traz venturas, certamente./ Mas dá algum consolo... Em verdade te digo: / Sempre é melhor chorar junto à lareira quente/ Do que na rua, ao desabrigo”. - Mário Quintana, em O Espelho Mágico.
Conhecia o poeta e não o prosador. Até lhe dediquei um dos meus sonetos, tempos atrás: Soneto a Olavo Bilac (In memoriam) – Jamais se extingue o mágico talento/ que ao verso devotava o gênio culto/ e lendo teus poemas eu exulto/ ao ver tamanho amor e tanto alento.// Ourives da poesia, nunca o insulto/ de abandonar a forma ou o sofrimento/ de sentir relegada ao esquecimento/ tua Profissão de Fé, sublime culto !// Enquanto nossa Língua tão sonora/ tiver o gosto amargo da saudade,/ no peito de quem ama ou de quem chora/ não morrerá a música do verso,/ a quem deste um sabor de eternidade/ na infinita amplidão deste Universo ! – Canoas, 21.10.83.
No entanto, mesmo como conferencista, ele afirma: “Não! Nem filosofia, nem economia política, nem ciência prática de ganhar dinheiro encontrareis aqui. O que me tentou e seduziu neste assunto foi a possibilidade de instaurar-se aqui, com um pouco de poesia e um pouco de bom humor, o processo do Dinheiro”. Por isto mesmo, a sua escrita me envolveu, e de um fôlego li seu opúsculo, em que se encontram pérolas de valor inconfundível, tais como esta de Ramalho Ortigão, corrigindo a fábula clássica - Jeová perguntou à cigarra e à formiga: “Que fizeste vós em vida?” “Eu cantei !” disse a cigarra. E disse a formiga: “Eu guardei !” E o Senhor disse, apontando a segunda: “Abram-me uma cova na terra e ponham-me lá dentro esta gorda capitalista !” E, apontando a primeira: “Dêem umas asas e ponham rutilante ao sol, na copa de uma olaia, esta pálida cantadeira !”
Quero parabenizar ao Nelson Fachinelli, pela passagem do seu aniversário nesta data.
Finalmente, uma estória do texto, pg. 53 do livro: “Ocorre-me aqui uma palavra, a um tempo alegre e amarga, com que um velho de meu conhecimento castigou certa fez a ingratidão de uma mulher amada e má. Toda a gente do Rio conheceu esse homem que chegou à velhice extrema conservando uma alegria de moço e uma serena filosofia, e apaixonadamente amando o amor. Um dia, houve uma briga entre ele e alguém que lhe consolava, ou lhe amargurava a velhice. Era ao fim do jantar; e disse-lhe a cruel: “És um velho repugnante ! Bem sabes que só te suporto pelo teu dinheiro !” Ele, que nesse momento descascava um figo, murmurou apenas: “Se gosto desse figo, e se posso pagá-lo, que me importa que ele goste ou não goste de mim?” E comeu o figo...” Sem maiores comentários... e até uma próxima oportunidade !

Cronista colaborador
Publicado em 9 de novembro de 2005 – no Diário de Canoas – RS.
http://ial123.blog.terra.com.br/
EM 13.05.2009

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