quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

C R Ô N I C A de IALMAR PIO - IMAGEM de GLAUCIA SCHERER

Tela de Glaucia Scherer



DOIS LIVROS EXEMPLARES DE VISCONDE DE TAUNAY

IALMAR PIO SCHNEIDER


Terminei de ler esses dias o livro impressionante A Retirada da Laguna, de Visconde de Taunay, de cujo autor já o havia feito de Inocência, há muitos anos. Trata-se de um episódio da Guerra do Paraguai, de passagens trágicas, e por demais cruéis, que aconteceram naquele conflito bélico. De fato, o escritor assim inicia no Capitulo IV, seu relato da Marcha sobre a fronteira paraguaia. Conselho de guerra. “Arrancou a coluna a 25 de fevereiro de 1867, indo acampar a uma légua da vila, à margem do rio Nioac. Logo que pudemos, visitamos o comandante. Tinha a barraca sobre um montículo pedregoso, a meio abrigado por palmeiras que tornavam aprazível aquele local. Estava agitado: já para o rancho da tarde faltava gado. A 26 estávamos no Canindé; a 27 no Desbarrancado.” Como existe diferença entre os dois livros! No Retirada da Laguna, os horrores da guerra e a epidemia da cólera dizimando o Exército, tendo entre suas vítimas o filho e depois o próprio guia Lopes da Laguna, e por último o tenente-coronel Juvêncio e o coronel Camisão. O desespero dos soldados enfrentando as maiores vicissitudes, quase que indescritíveis e conforme relata o autor: “Quanta idéia lúgubre evoca um campo de batalha! Sobretudo nestas solidões imensas, onde o próprio gênio do mal parecia ter penosamente convocado e reunido alguns milhares de homens para que mutuamente se exterminassem, como se terra lhes faltara para viverem em paz do fruto do seu labor.” E não existe final mais comovente e doloroso do que se transcreve abaixo: “A 12 de junho baixou uma ordem do dia do nosso valente chefe José Tomás Gonçalves, em poucas palavras resumindo os acontecimentos desta terrível campanha: “A retirada, soldados, que acabais de efetuar, fez-se em boa ordem, ainda que no meio das circunstâncias as mais difíceis. Sem cavalaria contra o inimigo audaz que a possuía formidável, em campos onde o incêndio da macega, continuamente aceso, ameaçava devorar-vos e vos disputava o ar respirável, extenuados pela fome, dizimados pela cólera que vos roubou em dois dias o vosso comandante, o seu substituto e ambos os vossos guias, todos estes males, todos estes desastres vós os suportastes numa inversão de estações sem exemplo, debaixo de chuvas torrenciais, no meio de tormentas de imensas inundações, em tal desorganização da natureza que parecia contra vós conspirar. Soldados! Honra à nossa constância, que conservou ao Império os nossos canhões e as nossas bandeiras”. Este livro me foi recomendado pelo professor de português e de história do Brasil, quando cursava o antigo ginásio, e só agora, dei-me a prioridade de o ler. Já o outro livro, Inocência, como o próprio nome está a indicar, é uma história de amor das mais românticas que existem em nossa literatura dessa Escola. Assim se refere Ivan Cavalcanti Proença, ao apresentá-lo: “Este Inocência vem sendo reeditado sucessivamente e é livro único, na literatura brasileira, traduzido para quase todas as línguas”. Confesso que o li duas vezes e estou pretendendo relê-lo. Aqui com certeza fala mais alto meu saudosismo de que me não liberto por mais que o procure fazê-lo. Estas são duas obras, cujo autor Alfredo d’Escragnolle Taunay, Visconde de Taunay, foi Oficial Superior do Exército Brasileiro, Senador do Império do Brasil e membro da Academia Brasileira de Letras, tendo nascido no Rio de Janeiro a 22 de fevereiro de 1843 e falecido na mesma cidade em 25 de janeiro de 1899. Resta-me acrescentar que são duas obras de leitura atraente, não obstante as cenas dantescas que povoam as páginas de A Retirada da Laguna, contrastando com a amenidade das de Inocência, que ainda persistem em meu subconsciente quais amáveis lembranças...

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