quarta-feira, 8 de julho de 2009

VERSOS GAUCHESCOS de IALMAR PIO SCHNEIDER

Gaúcho campeador


APRESENTAÇÃO

Desde a mais tenra infância, nascido na então Vila Sertão, distrito do município de Passo Fundo-RS, aprendi a apreciar as trovas de galpão que os campeiros improvisavam e se “puavam”, como se dizia naquelas plagas.
Os singelos versos crioulos que se espraiam pelas páginas seguintes foram trançados pelos idos de 1972, quando o autor contava com 29 a 30 anos de idade e freqüentava o Rancho do Pára Pedro, do saudoso cantor nativista José Mendes, que existia ali na rua da Figueira em Canoas-RS e era sempre reunião dos artistas mais expressivos da música, da poesia e da trova desta querência gaúcha. Sob o comando do Sérgio, simpática pessoa, de grande conhecimento artístico e poético, que muito elogiou minha preferência, quando adquiri uma Antologia Poética bilíngüe de Pablo Neruda, com seus cabelos brancos, esbanjando cordialidade, a convivência fraterna reinava naquele ambiente de congraçamento literário e folclórico gaúcho.
Lembro-me que certa ocasião estávamos numa roda, discorrendo sobre versos gauchescos e encontrava-se entre nós o saudoso poeta e declamador amigo Darcy Fagundes, e em dado momento voltando-se para minha pessoa, disse: - Este aí entende de poesia ! Bastou este elogio para que eu me sentisse por cima da carne seca, como se diz na gíria e continuasse a compor os poemas que lembravam a minha infância lá na minha Sertão-RS, onde meu pai (que era ótimo cavaleiro, pois tinha sido cabo na cavalaria do Exército em Santana do Livramento, quando lá serviu voluntário pelos idos de 1920 a 1930), possuía duas chácaras distantes uns seis a sete quilômetros da vila. De manhã cedo ele encilhava o cavalo, um tostado marchador ou um tordilho (quem sabe rosilho?) velhaqueador e íamos, eu em sua garupa, verificar o trabalho que um agregado desempenhava, cuidando do gado e das plantações.
Na volta no fim do dia, entregava-me o cavalo sempre bem encilhado e eu fazia meu passeio pelas ruas da pacata vila, às vezes levando uma guria de carona na garupa do tostado marchador. Bons tempos aqueles que ficaram para trás mas que se os não esquece meu coração de poeta saudosista. Que esta pequena produção poética gauchesca represente a minha saudade, para não dizer nostalgia (que é algo de que sinto falta), não obstante seja irreversível. Boa leitura, e toda a crítica será bem-vinda !

Ialmar Pio Schneider

P R Ó L O G O

Pio Tressino Schneider (nome adotado pelo autor para versos gauchescos, ou seja, sobrenome da mãe (Tressino) e do pai (Schneider), excluindo o primeiro prenome (Ialmar) e conservando o segundo (Pio).

Eis que empeço por aqui
relatar coisas do pago,
que sinceramente trago
no relicário do peito,
com muito amor e respeito
à tradição campechana,
onde esta vida haragana
leva por base o direito!

Minha escola foi o campo
e não passei além disso;
no entanto, não sou remisso,
pois um chiru descuidado
às vezes manda o recado,
com tal pressa e sem paciência,
que por qualquer coincidência
por outro já foi contado.

Minha experiência de taura
fez-me cantor sem retovo,
começando desde novo
como simples payador,
nunca levando temor
na luta do dia-a-dia
que enfrento com galhardia
num catecismo de amor.

Enquanto escrevo meus versos
vai esquentando a chaleira,
em toada milongueira
que me vai matando o tédio,
pois chimarrão é o remédio
que há muito tempo me cura
da solidão sem ventura
que me faz amargo assédio.

Estas rimas foram feitas
sem nenhuma pretensão,
saíram do coração
de um gaúcho que trabalha,
pois a vida é uma batalha
com percalços, com enleios,
já trago os ouvidos cheios:
quem não luta se atrapalha.

Criado nas intempéries
labutando desde piá,
nunca fui do deus-dará
nem tampouco cajetilha,
sou neto de farroupilha
que no Rio Grande de outrora
nas peleias campo afora
fez nossa raça caudilha.

Não me achico nem me zango
por pouca coisa ou por nada
e ao topar uma parada
vou até o fim sem receio;
não sou amigo do alheio
nem prejudico a ninguém,
vivendo assim, vivo bem
e poucas vezes peleio.

Sou índio de tiro longo
num bolicho de campanha;
faço versos, bebo canha,
nunca fui malcomportado
e embora estando magoado,
tenho comigo um sistema
que é de não criar problema:
sofro solito e calado.

Tenho meu pingo e a chinoca,
o velho rancho barreado
por mim mesmo fabricado,
onde nas noites de inverno
gozo o calor rude e terno
de um guasca fogo de chão,
quando sorvo o chimarrão
meu xucro vício paterno.

Pois desde piá saboreio
o mate amargo bendito
que é o consolo favorito
de quantos vivem penando;
e sinto de vez em quando
que esta salutar bebida
só prolonga minha vida
e a saudade vai matando...

* * * * * * *

Canoas - RS, 1972.



Um comentário:

  1. *Simone
    olá!!!! passei no seu novo blog!!!!! ta ficando ótimo!!!! quero que tu saibas que eu acho muito importante estes espaços como são os teus blogs, pois tu espõe tuas obras e oportuniza a pessoas de varias partes terem algo de qualidade para ler, sei que estes espaços podem não enriquecer sua conta bancaria, mas também podem, pois quando um trabalho de qualidade é exposto estimula o leitor a comprar livros. tens meus aplausos pela atitude de divulgar para todos tuas obras!!!!um abraço!!!!

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