Tela de Glaucia Scherer
Poesia Premiada - imagem: tela de Glaucia Scherer
PETIÇO
ZAINO DE APRENDIZ DE TROPEIRO de IALMAR PIO SCHNEIDER
Pseudônimo:
Chiru Serrano
Velho petiço que eu tive
nos meus tempos de guri,
hoje eu me lembro de ti
e vou sentindo saudade,
esta mágoa sem idade
que sempre nos acompanha,
pois não se afoga com canha
e nem o fogo destrói
porque quanto mais nos dói
menos sentimos a sanha.
E vou recordando
agora
quando te punha o
lombilho
e meio saco de milho
numa mala de garupa,
depois saía num upa
rumo ao moinho do
rincão
donde eu trazia
então
a farinha pra
polenta
o que tanto nos
sustenta
e até dá pra fazer
pão.
Não esqueço nunca mais
daquele petiço manso
que nunca teve descanso
e foi o meu companheiro,
quando aprendiz de tropeiro
adquiria experiência
de tudo quanto a existência
vai tramando com enleios,
velho amigo de rodeios
na minha xucra querência!
E depois vim pra cidade
viver no meio do povo,
pensando em ti me comovo,
pois sinto barbaridade,
uma dor que o peito invade
e me vai tomando conta,
como quem anda de ponta
com o destino caborteiro
que nos leva no entrevero
e tanta vez nos afronta.
Eras o orgulho que
eu tinha
quando em manhãs de
domingo
no meio de tanto
gringo,
eu ia assistir à
missa.
Troteavas sem
preguiça
no teu maior
otimismo
me levando ao
catecismo
onde a gente se
prepara
pra ter vergonha na
cara,
não praticar
banditismo.
Sempre foste meu amigo,
onde andasse bem ou mal,
até que a sina fatal
nos separou de repente.
Numa tarde de sol quente,
deixando o pago pra trás
me despedi de meus pais
e vim morar por aqui;
depois, nunca mais te vi,
nem me viste nunca mais!...
Nenhum comentário:
Postar um comentário