A FLAUTA QUE MEU PAI RACHOU
Meu pai me conta em noites hibernais
o seu passado nesta vida em fora,
e em torno de um fogão que chora e chora,
escuto histórias que não voltam mais...
Conserva na memória os seus anais
que nem o tempo com furor descora......
que a sina certa vez lhe foi caipora,
partindo seus desejos de cristais.
Em linda noite numa serenata,
tocou infindamente uma sonata
e a amada na janela não chegou...
E ele me narra, tristemente baixo,
que na sua euforia de muchacho,
rachou a flauta e nunca mais tocou!...
TEU FILHO, MEU PAI !...
Ah! teu filho, meu pai, foi diferente...
de a flauta destruir não teve a dita,
e andou cantando apaixonadamente
versos de amor a uma mulher bonita...
A noite é tão escura... O trem apita
e o seu lamento triste faz a gente
sonhar na infância que ficou escrita
no livro do destino descontente.
Horas noturnas de sentir saudade
de tudo o que se teve nesta vida...
Calar o peito, oh meu pai, quem há-de
se a meninice que ficou perdida
dentro de mim pungente e meiga invade
e por mais que se queira não se a olvida?!
***
Meu pai Henrique Schneider Filho, falecido em 1970, foi exímio flautista.
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