SOBRE ‘PHOTOPLASMA’ DE CHARLES KIEFER
IALMAR PIO SCHNEIDER
O texto abaixo
foi confeccionado em preleção ministrada pela professora Maria Luíza Bonorino
Machado - Mestre em Literatura/UFRGS, na Oficina Literária - O conto gaúcho, em
10 de julho de 2002, no Centro Municipal de Cultura - Biblioteca Pública
Municipal Josué Guimarães, à Av. Érico Veríssimo, 307 - P. Alegre, em cima do
conto e autor à epígrafe.
Aparecera
aquela fotografia em meio aos papéis antigos que ele guardara em seu arquivo. A
pessoa que estava retratada nela ostentava um bigode largo. Apesar de ter
praticado um crime medonho, aparentava uns traços fidalgos. Recordou-se que ao
chegar ao paço, havia um preto de libré no conto de Machado de Assis. Por que
ficar tantas tardes vazias a vasculhar esses papéis velhos ? Se não fosse por isto acreditaria que se
tratava de uma casa de loucos.
Naquele tempo
passavam-se as noites em saraus e bordados até altas horas. Lembrou-se de que o
braço esquerdo havia sido destroncado e agora o tinha em uma tipóia. Pensou que
fora um pequeno acidente e distante estava ainda o sarcasmo da morte. Por isso,
apesar de certo temor, desatou num riso inconsciente. Desejou tomar algo e não
o fez, pois teve receio de que havia veneno no leite que se encontrava num
litro na cozinha.
A crônica de um conto
Solicitam-me
que escreva um conto sobre um dos seguintes temas: Uma Estrada no Bosque ou Um
Caçador contemplando uma fogueira. Ambos para minha verve são difíceis,
apesar de já haver percorrido, num tempo remoto da minha infância, nas matas de
minha terra natal, cujo nome diz tudo - Sertão
- algumas trilhas, justamente na condição de caçador de passarinhos. Mas
ficar contemplando uma fogueira ? Nunca
presenciei tal cena, somente em filmes tenho a impressão... Faz muito tempo,
inclusive.
São aquelas
estórias de Robin Hood ou Tarzã (quem sabe !) que me atraíam
sobremaneira no rústico cinema de aldeia em que nós assistíamos às fitas
referidas, nos fins de semana. Apareciam as selvas com rios enormes e cipós
gigantescos. Entretanto, em minha memória isso está quase apagado. A vida foi
passando repleta de outras agruras que não aquelas de menino aventureiro e
solitário. Nem fui um caçador contemplando uma fogueira, apesar de
haver percorrido uma estrada no bosque,
digamos, preferindo outras modalidades de caça. Apenas andei desfiando alguns
versos que constituem a mochila que me acompanha, qual o soneto: “Consolação
- ‘Os meus versos não servem mais pra nada; / quero jogá-los fora,
pobres versos, / foram meus companheiros de jornada / nos momentos felizes ou
adversos ! // Muitos escritos pela madrugada, / tristes soluços na paixão
imersos / parecem uma história inacabada / com fragmentos avulsos e
dispersos... // Entretanto, por que jogá-los fora ? / se nasceram do fundo de
minh’alma / e já não servem pra mais nada, agora ? ! // São versos pobres,
versos, enfim, tristes, / mas fazem que eu mantenha a minha calma / e me dizem
que tu neles existes...’”
Pode que não
seja um conto o que acabo de escrever. Entretanto, esforcei-me para que o fosse
- bem sei - é um pedaço desta existência, quiçá de contista frustrado. Ou devo
insistir e não abandonar o barco em que navego por águas ainda desconhecidas ?
- (desculpem os clichês - foram inevitáveis). Espero não sofrer um naufrágio e ancorar em
porto seguro...
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Cronista e poeta
Publicado em 07 de
agosto de 2002 - no Diário de Canoas.
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