quarta-feira, 29 de abril de 2015






S O N E T O

Ialmar Pio Schneider

A inspiração existe, sim; é quando
eu me quedo perante o mar e sonho
que tu, mulher eleita, vens chegando
nas ondas espumantes e tristonho

não posso te alcançar, pois desprezando
os cânticos sinceros que componho
vais aos poucos, enfim, te transformando
em pesadelo lúgubre, medonho...

Rogo, então, sem saber o que acontece,
para que as Musas não me deixem nunca
nestes momentos de esplendor do transe.

Se tudo fosse apenas uma prece,
o próprio devaneio que se trunca
houvera de formar nosso romance...

Capão da Canoa, RS, 13-2-98

EM 15.8.2010

EM 23.05.2010
*   *   *










D E S T I N O

Ialmar Pio Schneider

1
Quem foi poeta e teve que fazer versos
p’ra “viver e deixar viver”
ao longo do caminho que trilhou
nas noites escuras perto do mar
mas sonhando com o amanhecer...
2
Quem foi poeta e teve que sonhar
com mundos inatingíveis
e se consolou
inventando universos
incríveis...
3
Quem foi poeta e se perdeu em momentos incertos
à procura de alguém
que lhe desse a esperança
de se encontrar no futuro
e no além...
4
Quem foi poeta e andou no escuro
querendo a luz
que só se alcança
nos páramos abertos
dos céus azuis...


Capão da Canoa - RS, 10-4-98

EM 14.8.2010  *   *


EM 23.05.2010




sexta-feira, 24 de abril de 2015

DIA DO CHIMARRÃO - 24 de abril 



M A T E     A M A R G O

                                                Ialmar Pio Tressino Schneider

                   Meu mate amargo de essência
                   que a gente sorve sem pressa...
                   como quem cumpre promessa,
                   recordando a cada instante
                   alguém que ficou distante,
                   vivendo por outros pagos,
                   necessitando de afagos
                   num beijo longo de amante.

                            És o meu vício de taura
                            que adquiri quando piá
                            e pra mim outro não há
                            que seja tanto estimado,
                            pois resumes o passado,
                            o presente e o futuro
                            do brioso pêlo-duro,
                            nativo de nosso Estado.

                   E assim dessa maneira
                   não há chiru nesta terra,
                   do pampa, campanha ou serra,
                   que não te adore o sabor,
                   pois representas o amor
                   ao pago agreste e campeiro
                   onde o valente tropeiro
                   vai cruzando sem temor.









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    19 – Ialmar Pio Tressino Schneider    -  Versos gauchescos










                   O preparar-te com gosto
                   exige certo segredo
                   que já se aprende bem cedo
                   pra nunca mais se esquecer,
                   pois é do guasca o dever:
                   prestar muita atenção
                   ao cevar o chimarrão
                   que ele mesmo vai beber.

                            E no pouco que conheço
                            sempre atentei para isso,
                            não se pode ser remisso
                            quando a gente toma mate,
                            assim como num combate
                            não se atira bala à-toa;
                            a erva tem que ser boa, -
                            bomba dezoito quilate.

                   O porongo bem graúdo
                   em forma de coração,
                   pois assim o chimarrão
                   vem de encontro ao que se quer
                   e cumprindo seu mister,
                   vai penetrando no cerno
                   de nosso peito, mui terno,
                   como afago de mulher.

                            * * * * * * *

                   Canoas - RS, 02.09.1972




quinta-feira, 23 de abril de 2015



OS LIVROS E O DIA A DIA

Ialmar Pio Schneider

         Transcorre hoje o Dia do Livro, ou precisamente, no dia 23, o Dia Mundial do Livro e do Direito do Autor, não obstante as festividades que aconteceram, ocorreu-me escrever algo a respeito do livro, este amigo mudo mas sábio que me acompanha desde que me conheço por gente. O pouco que sei nesta vida pacata que levo, além dos mestres que me ensinaram, estão os livros como fonte de conhecimentos onde procurei sempre a aprendizagem e o lazer, apesar da mortificante televisão cuja tentação não tenho resistido. 
         Todavia, por falar em livro, fatalmente, tenho que me referir ao pai de todos que é o dicionário, como tão bem se refere o Pablo Neruda em seu Oda al diccionário - “Lomo de buey, pesado/ cargador, sistemático/ livro espeso:/ de joven/ te ignoré, me vistió/ la suficiência/ y me creí repleto,/ y orondo como un/ melancólico sapo/ dictaminé: “Recibo/ las palabras/ directamente/ del Sinaí bramante./ Reduciré/ las formas a la alquimia. Soy mago”. / En gran mago callaba./ El Diccioario,/ viejo y pesado, com su chaquetón/ de pellejo gastado,/ se quedó silencioso/ sin mostrar sus probetas./ Pero un dia,/ después de haberlo usado/ y desusado,/ después/ de declararlo/ inútil y anacrônico camello,/ cuando por largos meses, sin protesta,/ me sirvió de sillón/ y de almohada,/ se rebeló y plantándose/ en mi puerta/ creció, movió sus hojas/ y sus nidos,/ movió la elevación de su follaje:/ árbol/ era,/ natural,/ generoso/ manzano, manzanar o manzanero,/ y las palabras/ brillaban en su copa inagotable,/ opacas o sonoras,/ fecundas en la fronda del lenguaje,/ cargadas de verdad y de sonido.// Aparto una sola de sus páginas:/ Caporal / Capuchón/ qué maravilla pronunciar estas sílabas com aire,/ y más abajo Cápsula/ hueca, esperando aceite o ambrocía/ y junto a ellas/ Captura Capucete Capuchina Capratio Captatorio/ palabras/ que se deslizan como suaves uvas/ o que a la luz estallan/ como gérmenes ciegos que esperaron/ en las bodegas del vocabulario/ y viven otra vez y dan la vida:/ una vez más el corazón las quema.// Diccionário, no eres/ tumba, sepulcro, féretro,/ túmulo, mausoleo,/ sino preservación,/ fuego escondido,/ plantación de rubíes,/ perpetuidad viviente/de la esencia,/ granero del idioma.// Y es hermoso recoger en tus filas la palabra de estirpe,/ la severa y olvidada sentencia,/ hija de España, endurecida como reja de arado,/ fija en su límite de anticuada herramienta,/ preservada con su hermosura exacta/ y su dureza de medalla./ O la otra palabra que allí vimos perdida entre renglones/ y que de pronto se hizo sabrosa y lisa en nuestra boca/ como una almendra/ o tierna como un higo.// Diccionario, una mano de tus mil manos, una de tus mil esmeraldas, una sola gota/ de tus vertientes virginales,/ un grano de tus magnánimos graneros/ en el momento justo a mis labios conduce,/ al hilo de mi pluma,/ a mi tintero./ De tu espesa y sonora profundidad de selva,/ dame, cuando lo necesite,/ un solo trino, el lujo de una abeja,/ un fragmento caído de tu antígua madera perfumada/ por una eternidade de jazmineros,/ una sílaba, un temblor, un sonido,/ una semilla: de tierra soy y con palabras canto.”
         Também não posso deixar de referir-me ao leitor para o qual compus um soneto: Ao leitor - Quando escrevo me assalta um pensamento/ indeciso de não saber a quem/ possa atingir meu louco sentimento/ e duvidar assim não me faz bem...// Espero apenas que o meu sofrimento/ não vá prejudicar... ferir ninguém.../ Ponho aqui realidade e fingimento/ para a escolha daqueles que me lêem.// Segue junto comigo se te apraz/ conhecer solidão e fantasia,/ às vezes desespero, às vezes paz:/ meus “Sonetos e Cânticos Dispersos”,/ dizendo que no mundo da poesia/ cada qual é o poeta dos seus versos...
         Pode parecer estranho que quase sempre me socorro da poesia para escrever o meu texto aqui, buscando divulgar os autores, os mais diversos. É uma maneira de despertar o interesse para a arte poética pois sempre vejo nela uma tábua de salvação à realidade cruel que presenciamos no dia-a-dia. Nunca é demais lembrar: “Um país se faz com homens e livros”. Monteiro Lobato (1882-1948). Então, façamos deles os nossos fiéis e constantes companheiros para enfrentar a vida.
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   Poeta e cronista - E-mail rs080254@via-rs.net
   Publicado em 30 de abril de 2003 - no Diário de Canoas.
EM 18.4.2011




quarta-feira, 15 de abril de 2015

IALMAR PIO

Mas, mudando de assunto, e dando asas à imaginação, quero aqui deixar uns versos que escrevi aleatoriamente para alguém, sendo meu penúltimo poema, acredito, pois pretendo escrever outros. Nada tem a ver com os assuntos em foco, mas ocorreu-me publicá-los, como segue:

Esse amor não foi tão forte assim
como supunha nossa vã filosofia;
aqui no mundo tudo tem um fim
e com certeza ele chegou um dia...

Não me queira mal, nós somos tão carentes;
sejamos compreensivos; é a vida
que não pode tornar-nos indiferentes
ao subirmos ou na descida.

Você soube apreciar meus tristes versos
e muito lhe agradeço, de coração;
eles andam por aí dispersos,
afinal, formam a minha pobre canção...

Se não fomos felizes... O que importa ?
Eu vivi... você viveu... Não negue ! Se ranzinzas
momentos bateram à nossa porta,
qual Fênix outros mais alegres renascerão das cinzas...


Publicado em 11 de junho de 2003 - no Diário de Canoas.




quinta-feira, 9 de abril de 2015

Em Capão da Canoa - lendo um livro na sacada do ap.




SONETO AFLITO--------Quisera aqui deixar escrito de passagem/ aquele enlevo que nos uniu num momento;/ depois tomaste um rumo e seguiste viagem/ como quem parte, assim levada pelo vento...// Hoje procuro ouvir na tênue voz da aragem/ um suspiro talvez; ou quem sabe um lamento/ emitido por ti, tal qual uma mensagem/ que me permita, enfim, lograr o meu intento...// Mas vão-se as estações: inverno, primavera,/ verão e outono; e ainda estou sozinho e triste,/ na aflição infernal de quem sofrendo espera...// Se ouvires, por acaso, um pássaro canoro/ entoar uma canção que tu jamais ouviste,/ recorda-te que, te lembrando, ainda deploro !-----IALMAR PIO (ver no www.google.com.br  – POESIAS E CRÔNICAS DIVERSAS


quinta-feira, 2 de abril de 2015




JESUS É CONDENADO À MORTE

E Pilatos, procurador romano,
mandara vir Jesus à sua presença,
e olhando para o povo desumano,
falou assim com grande indiferença !

- Eis vosso Rei ! Porém, o povo insano,
cheio de cólera, fez uma imensa
algazarra e gritou: - O soberano
nosso é César e Jeová nossa crença !

Então Pilatos, as suas mãos lavando:
- Sou inocente do sangue do justo !
- Que caia sobre nós e nossos filhos !

Responde o povo, a maldição clamando.
Assim foi condenado o Ser augusto
que trouxe a luz para os escuros trilhos.

IALMAR PIO SCHNEIDER


de:
JESUS É CONDENADO À MORTEE Pilatos, procurador romano,
mandara vir Jesus à sua presença,
e olhando para o povo desumano,
falou assim com grande indiferença !
- Eis vosso Rei ! Porém, o povo insano,
cheio de cólera, fez uma imensa
algazarra e gritou: - O soberano
nosso é César e Jeová nossa crença !

Então Pilatos, as suas mãos lavando:
- Sou inocente do sangue do justo !
- Que caia sobre nós e nossos filhos !

Responde o povo, a maldição clamando.
Assim foi condenado o Ser augusto
que trouxe a luz para os escuros trilhos.




 Obs.: Este soneto foi composto pelo autor em 1960, aos 17 anos, e publicado no jornal O Nacional de Passo Fundo - RS, quando meu colega de Técnico em Contabilidade, Carlos Alberto Morsch, o levou para a redação. Se não me engano, foi o primeiro a ser editado na imprensa, porque os anteriores eu os divulgava através dos murais nos Colégios Cristo Rei de Getúlio Vargas - RS, e N.Sra. da Conceição, em Passo Fundo - RS.